terça-feira, 12 de março de 2024

Como paramos no atoleiro do neofascimo?

A pedra do Muro de Berlim atingiu o entregador do iFood

A queda do Muro de Berlim, em 1989, marcou o fim da Guerra Fria, simbolizando a reunificação da Alemanha Ocidental e Oriental e precipitando o colapso do comunismo soviético. Em 1991, testemunhamos o fim da URSS e, simultaneamente, a Guerra do Golfo. Esses eventos marcaram a decadência da URSS e o estabelecimento dos EUA como a única superpotência mundial, demonstrando sua capacidade de agir conforme desejassem no cenário internacional, com um mandato que se estendia para Israel. 

A esquerda se viu preocupada, enquanto a direita celebrou a vitória, simbolizada pela hegemonia do modelo democrático liberal ocidental, e a autodeclarada chegada ao caminho que levava ao fim da história, como profetizou Francis Fukuyama, que depois renegou sua própria tese. Na sequência, a direita neoliberal emergiu como a corrente ideológica dominante no mundo, impulsionada pelo imperialismo da Pax-Americana e pelo aprofundamento do receituário do Consenso de Washington: mais arrocho e menos estado. 

No cenário internacional, o neoliberalismo, em conjunto, e em contradição, com o keynesianismo militarista estadunidense, causou um rearranjo do tabuleiro geopolítico. A reação palestina à ocupação de seu território por tropas israelenses, com o massivo apoio americano, de alguma forma confirmava a desintegração da URSS e o aumento do poder de Israel. As Intifadas se tornaram parte dessa reação, e a assinatura dos Acordos de Oslo se tornou inevitável, ainda que indesejável para o establishment mais a direita. O poder comunicacional norte-americano estava no auge, com a dominação completa das comunicações de massa.

A antiga ordem neocolonialista, também colapsou em outras regiões do planeta. As ex-colônias africanas começaram a se desestabilizar politicamente, num movimento que persiste até hoje, como o Genocídio de Ruanda. a Revolução dos Contras, a Invasão do Iraque, e a Guerra da Bósnia, também são resultados deste neocolonialismo, seja em sua vertente econômica, na guerra pelo petróleo, seja pela dominação de uma pretensa civilização judaico-cristã.

A União Europeia foi criada para contrapor-se ao poder centralizado dos EUA, mas nasceu com um problema intrínseco: todos os seus países eram subservientes aos norte-americanos. Contudo, a China vinha crescendo economicamente de forma discreta e começou a acelerar de maneira impressionante a partir de 1991. Mesmo com a Rússia aparentemente derrotada, o mundo parecia caminhar em direção à multipolaridade. A social-democracia começou a ganhar força nesse contexto, e o pêndulo político iniciou seu retorno do radicalismo de direita para o centro. A internet estava nascendo, ainda não era uma força comunicacional, mas as potencias ocidentais estavam com o controle da web e da tecnologia envolvida.

Após os ataques de 11 de setembro às Torres Gêmeas, os EUA iniciaram a Guerra ao Terror e invadiram o Afeganistão em 2001 e o Iraque em 2003. Recuperaram o controle geopolítico demonstrando sua superioridade militar e amorteceram o ímpeto multilateralista por décadas, estabelecendo-se como a única superpotência mundial e líder absoluto dos países alinhados. A busca por uma dominação global absoluta culminou mais tarde nas Primaveras Árabes e nas Revoluções Coloridas.

Entretanto, de maneira discreta, mas constante, a China emergiu como a segunda maior economia mundial, adotando uma forma aparente de capitalismo de Estado. O capitalismo então, se firmou como a única ideologia vencedora, culminando em uma longa trajetória simbólica até a sua "gloriosa vitória final" desde a queda do Muro de Berlim.

Em paralelo a esse movimento geopolítico, desde a década de 70, o capital passou por um processo de financeirização, e, nos anos 2000, os bancos já representavam o ápice do capitalismo globalizado, impulsionados pela internet e pela abertura comercial. Nos anos 2000 a internet começou a ganhar relevância no campo da comunicação, e os grupos de periféricos, oprimidos e favelados enxergaram uma oportunidade de criar uma contracultura digital, por se tratar de uma rede distribuída e multipolar.

Em 2008 a internet já era um poder comunicacional, porém, ainda não determinante. A dinâmica de grandes plataformas e redes sociais já estava implementada, mas não era dominante. No entanto, a volatilidade das trocas digitais em nível global já estava instituída, e a economia mundial já estava interligada em um piscar de olhos. E o grande capital já exercia seu domínio sobre a internet.

Neste contexto chegou a crise financeira global, nascida no centro do capitalismo moderno, os EUA, e desmoralizou completamente o sistema bancário. Foi uma crise simbólica, pois até então o capitalismo era o vencedor ideológico e os bancos os campeões do capital, mas eles revelaram uma natureza fraudulenta, contrariando a expectativa de profissionalismo e meritocracia. A ilusão do mundo liberal autorregulado caiu, e a crise se espalhou rapidamente, causando uma recessão undial de grande impacto.

Esse momento foi crucial para entender o crescimento da extrema-direita em ámbito internacional, pois o modelo capitalista estava abalado, e surgia a questão: retornaríamos ao "antiquado" socialismo ou dobraríamos a aposta no capitalismo? 

A extrema-direita apresentou-se com todas as condições para oferecer uma solução rápida para a crise: respostas simples e diretas. Problemas econômicos? Abrir mercados e privatizar. Violência? Prender e matar. Questões sociais? Deixar que Deus guie.

Enquanto isso, a esquerda continuou com sua mesma fórmula, adotou uma abordagem mais elaborada, tentando explicar as causas da crise e como superá-la, semelhante ao que fazemos neste texto. Esse modelo de comunicação só poderia ser superado com o crescimento exponencial das redes sociais, um ambiente de comunicação rápida e direta. 

A internet, que inicialmente mimetizava a comunicação analógica, permitiu que a esquerda competisse com a direita, pois suas explicações ainda faziam sentido. No entanto, conforme a natureza da rede evoluiu para um rápido o fluxo digital e adotou o capitalismo de plataforma, com a preponderância do Google, Facebook, Amazon, etc, e a utopia de uma internet democratizadora da comunicação desvaneceu.

Paralelamente, a extrema-direita começou a se organizar digitalmente, de maneira rápida, fluída e objetiva, enquanto os movimentos de esquerda lutavam com o peso da história e a dificuldade de se adaptar. Enquanto a extrema-direita se construía dentro do mundo digital, a esquerda ainda não havia compreendido plenamente essa nova realidade.

Quando a extrema-direita percebeu a falta de limites e regulamentações nas redes, rapidamente explorou as brechas do sistema, resultando em escândalos como o da Cambridge Analytica, o Brexit, a eleição de Trump em 2016 e o consequente fortalecimento da extrema-direita mundial.

Atualmente, enfrentamos o paradoxo de a extrema-direita não saber como resolver os problemas, mas oferecer soluções simplistas, enquanto o campo progressista debate profundamente as causas, mas sem apresentar respostas simples. Esse dilema se reflete em toda a comunicação digital, pois a mentalidade progressista ainda não está alinhada às dinâmicas das redes sociais, e os que tentam se adaptar muitas vezes recorrem às táticas da extrema-direita.

O desafio se intensifica, pois os algoritmos favorecem o neofascismo, seja pela atração do discurso sensacionalista, seja pelo poder econômico dos indivíduos dispostos a financiar essa ideologia. Mas uma coisa é certa: os algoritmos estão promovendo conteúdos de extrema-direita, criando um ciclo vicioso onde o conteúdo extremista gera mais engajamento, e, para aumentar o engajamento, adere-se ao conteúdo extremista.

No fim das contas, o lucro nos levou ao atual paradoxo político, e o capitalismo de plataforma tornou-se a arena de disputa. Porém, esta arena não é neutra, e a mensagem da extrema-direita, por oferecer soluções imediatas, embora irracionais, circula com mais facilidade. Memes, reações e tendências se encaixam com dificuldade na linguagem progressista, mas fluem naturalmente na narrativa da extrema-direita.

Vivemos em um ambiente de guerras híbridas, onde a direita mundial está profundamente conectada e goza de amplo financiamento dos abastados, posicionando-se como anti-elite, apesar de serem serviçais do interesses desta mesma elite. Essa adequação é natural para quem escolhe o caminho mais curto, mais fácil e mais rápido, apesar de não levar a lugar algum, ou pior, a destinos indesejáveis.

Este cenário informacional nos conduziu à nossa condição contraditória atual, onde imigrantes votam no Trump, gays escolhem o Bolsonaro, negros brasileiros são eleitos pelo Chega em Portugal, e “autônomos” do iFood reclamam da regulamentação. E assim a pedra lançada lá do Muro de Berlim atinge em cheio o entregador do iFood no Brasil, que foi capturado pela teia da extrema direita no ambiente digital.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Trump no poder. Wikileaks involuntariamente ajudou.


Como alguém disse: tenho medo do Trump porque não sei o que ele vai fazer e tenho medo da Hillary porque sei o que ela vai fazer.

Quem acompanhou estas eleições americanas sabe que o Wikileaks foi um grande player. E ganhou as eleições. Jamais um grande jogador externo aos Estados Unidos havia realizado uma intervenção direta nas eleições domésticas. E uma intervenção de sucesso, diga-se de passagem.

O Wikileaks divulgou os "Podesta Email's", emails do chefe da campanha dos Democratas, uma bomba no processo eleitoral. O vazamento tornou público o grande jogo, os interesses econômicos da guerra e seus acompanhantes macabros: indústria bélica, farmacêutica, petrolífera, de biotecnologia, de alimentos e, hoje, a indústria tecnológica.

Os emails divulgados foram devastadores, pois mostraram as relações espúrias entre os Clinton's, o Departamento de Estado, as corporações e os interesses geopolíticos menos nobres que se possam ser pensados. Expuseram as entranhas das negociações, envolvendo o establishment, o grande  capital, incluindo todos os maiores interessados na teoria de que o caos pode ser uma maneira extrema de gerar lucro.

O Wikleaks divulgou, e o Julian Assange reafirmou, que os financiadores da Hillary e do Estado Islâmico são os mesmos: Arábia Saudita e Qatar. Estes estão entre os principais financiadores do mal e causadores de morte em série no mundo atual. Nesta lógica a derrota da Hillary é a derrota do Estado Islâmico, principalmente e o consequente fortalecimento da Rússia, em primeiro lugar, e da China, secundariamente, na geopolítica.

Existe uma já tradicional análise de  que os Republicanos ganharem nos EUA é sempre melhor para o resto mundo, porque eles são mais interessados na política interna, e que os Democratas são sempre mais intervencionistas na política externa. Os apoiadores deste ponto de vista afirmam que os golpes de estado mundo afora aconteceram majoritariamente sob o mando dos Democratas. Assim sendo, para os anti norte-americanos seria sempre melhor um Republicano eleito. Tenho severas restrições à esta interpretação.

Existe também uma interpretação derivada desta que consistem na seguinte tese: caso os EUA sejam de fato o Império do Mal, quanto pior para os EUA, melhor para o mundo. Neste ótica restrita Trump seria uma grande vitória para o resto do mundo.

Também se poderia dizer, na mesma linha, que o Trump é a caricatura de tudo o que há de pior, e que a Hillary é o que há de pior. Trump é um falastrão que fala muito mais do que faz, e a Hillary uma frequentadora das sombras que fala muito pouco sobre o que realmente faz.

Talvez comece a fazer sentido a campanha do Wikileaks para desconstruir a Hillary. É praticamente unânime entre os pensadores críticos recentes que o  império Yankee é pernicioso para o equilíbrio mundial.  Assim sendo, se este império quer se aprofundar em uma crise, por que alguém deveria evitar?

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O encontro do PT com a autocrítica

No seu congresso o PT não conseguiu fazer qualquer autocrítica relevante, o que é um sintoma bastante ruim. A capacidade de autocrítica é um componente importante de uma organização que sabe corrigir seus rumos.

O PT como um todo foi subjugado por uma de suas correntes internas, a majoritária, que sempre dominou o partido. Para a corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), ex-Campo Majoritário, ex-Articulação, as criticas ao partido seriam como um reconhecimento do seus erros, uma vez que não perde votações no partido.

Esta autocrítica seria necessária, seria uma clara evidência que o partido está vivo e que não se confunde com o governo, ou que pelo menos não é menor que ele. Esta sinalização não veio, traduzindo uma situação incômoda: a organização trabalha para a sua direção e não o contrário.

O PT resolveu abafar as críticas internas para que não se demonstrasse falta de unidade ou falta de controle do grupo hegemônico sobre o partido. Se o objetivo era não apresentar as debilidades aos predadores, apresentou-se uma organização envelhecida, cujo resultado prático é o mesmo.

Ao evitar a crítica à política econômica recessiva e pró cíclica o PT flerta com o neoliberalismo e rompe mais uma vez com a tradição de esquerda, de ampliar investimentos públicos para contornar as crises econômicas e aquecer a economia. Distancia-se assim um pouco mais do imaginário de sua base social, que aguardava outra atitude do governo e do PT.

Sabe-se que o governo nunca vai ser a esquerda do partido, mas o que não se pode deixar acontecer é que o PT deixe de estar à esquerda do governo sem postura crítica. Quando o medo da crítica interna assola a estrutura partidária,  apresenta-se um sintoma muito sério de que o Partido enrijeceu, e tudo que é rijo é mais fácil de quebrar.

Autocrítica é o mínimo que o PT deve produzir enquanto reflexão teórica. Não a autocrítica cobrada pela mídia, mas sim a autocrítica militante 


segunda-feira, 30 de março de 2015

Brasileiro indignado: um prato cheio para a CIA


Todos os países com governos de esquerda na América Latina estão passando por um processo de desestabilização política através de um método antigo da CIA: utilizar os ódios internos do povo contra si mesmo e rotular os governos de corruptos para derrubá-los.

Este método é utilizado pelos serviços discretos dos EUA em diversos países desde a década de 50, com mais ou menos sucesso, a depender da acuidade intelectual das lideranças nacionais de cada país e do grau de entreguismo de sua elite. As intervenções americanas vão desde agitação política até golpe de estado ou guerra aberta.

Para refrescar a memória: Síria (1949), Irã (1953, 1980), Guatemala (1954), Cuba (1959), Congo (1960), República Dominicana (1961), Iraque  (1963), Vietnã do Sul (1963), Brasil (1964), República do Gana (1966), Iraque (1968, 1973 e 1992-95), Chile (1973), Afeganistão (1973), Argentina (1976), Afeganistão (Década de 1980), Turquia (1980), Nicarágua (1981-1990), El Salvador (1980-1992), Camboja (1980-1995), Angola (Década de 1980), Filipinas (1986), Guatemala (1993), Sérvia (2000), Venezuela (2002) e Haiti (2004).

No manual de intervenção internacional o primeiro capítulo é sobre a cooptação da elite nacional. É frequente na história recente a colaboração de líderes nacionais, órgãos de imprensa e altos executivos com os interesses americanos em troca de recompensas materiais. WikiLeaks deixou claro com quem a embaixada americana conversa no Brasil: tucanos e representantes da grande imprensa.

No segundo capítulo vem o financiamento e a organização de grupos com o objetivo de promover a desestabilização política de governos não alinhados com os interesses americanos. Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina e Brasil apresentam sintomas semelhantes, oriundos da mesma cartilha.

Eis que se constata que o rapaz que lidera o movimento "Vem Pra Rua", Rogério Chequer, consta na lista vazada pelo WikiLeaks  como destinatário de mensagens da Statfor, um suposto braço da CIA. É um fio que, se bem puxado, pode mostrar como se faz um tecido com a meada yankee.

É disso que se trata, de desvalorizar, fatiar e privatizar a Petrobras, quebrar grandes empreiteiras brasileiras e substituí-las por americanas, paralisar o BNDES e impedir que o Brasil invista em infraestrutura e se torne uma potência de fato.

No tiroteio ideológico são manobradas as raivas e ódios internos de maneira que o resultado seja uma afronta aos interesses nacionais. É exatamente isso que está acontecendo hoje em dia: os indignados úteis foram envenenados pela fúria anti-PT e estão se permitindo serem utilizados como massa de manobra para os interesses americanos.

Se pode concluir que a CIA é mais efetiva que a direita nativa para colocar em curso um processo de desestabilização política e, ao fazê-lo, o faz direcionado aos seus interesses, claro. E resta ao conservadorismo local aplaudir os bárbaros em seu caminho de destruição, sem se darem conta de que aplaudem a entrega de seu próprio país aos interesses do império.

A elite local, engenhosamente, manda ao sacrifício todo o rebanho para livrar o gado dos carrapatos. E como tem carrapato... que o digam o Irã, Afeganistão, Nicarágua, El Salvador, Venezuela, etc.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Saída sem classe de Marta Suplicy



Marta Suplicy está atirando livremente contra o PT e contra o Governo Dilma, principalmente contra a própria Dilma.

Quais são os interesses de Marta Suplicy? São claros: a) fabricar argumentos para deixar o PT sem perder o mandato de senadora; b) se aconchegar no seio do conservadorismo paulista; c) se vingar de todos que não serviram ao seu projeto pessoal de poder.

Marta deixa claro que a política para ela é uma política palaciana, com intrigas de bastidores e traições dentro da corte, uma política sem povo, uma política sem classes, na qual o povo deve apenas confirmar pelo voto as escolhas feitas anteriormente pelo iluminados.

Marta se sente parte desta elite palaciana, se apresenta como vítima das intrigas e como portadora de um indelével pedigree patronal, ao fazer coro com a banca do mercado sobre a necessidade da equipe econômica não ser subordinada à Presidenta Dilma.

E a apresentação do certificado de pedigree, ao se colocar como interlocutora com os "30 PIBs paulistas", foi totalmente desnecessária. Qualquer quatrocentão do Clube Paulistano diria que foi um grande mico ostentação.

Mas o que mais saltou aos olhos foi o entendimento de Marta sobre o processo histórico, uma visão Hegeliana de são os indivíduos históricos que são portadores do espírito do mundo, muito distante de uma visão Marxista de que são as contradições de classe que movem a história.

Mas Marta não tem consciência desta sua visão de história, é inconsciente, é interiorizada. Marta não é classe trabalhadora, nem classe em si, nem classe para si.

Sentia-se confortável no PT enquanto era charmoso ser petista, era cult, era moda entre intelectuais "rebeldes". Hoje, que o PT foi vitimado pelo sucesso do seu pragmatismo eleitoral e pela incessante campanha de difamação midiática, esta roupa não lhe cabe mais.

Mas não foi o PT que mudou, e inclusive o caminho de pragmatismo trilhado pelo partido sempre foi defendido por Marta e por seu grupo político, grupo aliás que se desmanchou.

A manutenção de seu grupo político dependia da sua capacidade pessoal de distribuir benefícios políticos, e quanto menor se tornava seu espaço político, menor ficava seu grupo. E quanto menor ficava seu grupo, menor seu espaço político. Se a "vingança" de Marta é contra quem lhe tirou espaço político, deveria se vingar de si mesma.

Até chegarmos ao ponto de o PT não ser mais conveniente para Marta. Em sua visão particular seria melhor sair pelas portas dos fundos, promovendo intrigas e fornecendo versões particulares dos fatos que agrada a mídia. É mais uma pedra para jogar na Geni.

Marta será usada pela mídia, terá seu palanque provisório garantido, mas talvez encontre ocupada sua cadeira na mesa de jantar da nobreza quando voltar do seu churrasco na lage.

Marta pode acabar sendo rejeitada pela esquerda por sua postura desleal, e pelos conservadores por ser uma antiga traidora de classe.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A Síndrome de Estocolmo e o sequestro da opinião pública



A mídia hoje de fato detém poder real, e este poder está a serviço de certos interesses. É demais pedir a qualquer um que seja ingênuo o suficiente para acreditar que as intenções destas corporações são as melhores possíveis, carregadas de bondade, altruísmo e compaixão universal.

Estas corporações devem ser tratadas como tais: corporações. Com seus interesses empresariais, políticos e sociais antes de tudo mesquinhos, voltados para sua própria preservação e para promover uma vida de luxo para os seus chefes e trabalhadores mais graduados.

Se constitui ou não um 4º poder, este é um debate a ser feito. O fato é que este agrupamento de corporações de mídia se comporta como um poder político, que participa como protagonista cotidiano na disputada eleitoral em uma situação extremamente confortável, pois não está totalmente sujeito às regras do jogo.

A mídia brasileira quer continuar acima das regras, ao largo da lei. Quer continuar a portar a licença para matar, para assassinar reputações, para distorcer a realidade, para usar a manipulação da informação como fonte de poder e lucro.

Jogando mais uma vez o jogo político, a mídia empunha todas suas armas para travar uma guerra contra a democratização da comunicação e a regulação econômica. E suas armas contam novamente com a desinformação da população, presa fácil para os argumentos maniqueístas.

Só pessoas desinformadas não são capazes de reconhecer o maniqueísmo e se livrarem da sua capacidade de manipulação em massa das mentes. O argumento de fundo é tão simplista, que denuncia a precariedade do debate político no Brasil, a fraqueza da formação política do nosso povo.

Nas entrelinhas estas corporações dizem todos os dias para sua audiência: todos os esquerdistas são maus, em especial os petistas, e eles querem calar nossa voz, que é a única que defende a verdade e o interesse nacional.

Tentar manipular uma outra mente usando o maniqueísmo, é insultar a inteligência da pessoa alvo. Mas quando a audiência acolhe tal argumento, e ainda o reproduz com claro regojizo, se evidencia a prova do grau de nocividade cognitiva que tal imprensa produz na população.

Em resumo: a mídia tem interesses, estes interesses não são "nobres", não são coincidentes com os interesses do povo, e a ampla falta de regulação lhes interessa e lhes favorece. Esta imprensa divide o mundo entre bons e maus e rotula como mal intencionado qualquer um que defenda interesses contrários aos seus.

Sem se dar conta de que atua como massa de manobra parte da população sai em defesa dos interesses dos outros, dos interesses da mídia, como se fossem seus próprios interesses. As corporações de mídia defendem a pura liberdade de manipular e conseguem fazer com que seus manipulados sejam os primeiros a oferecerem seus corpos como escudos humanos nesta guerra.

É como se os sequestrados defendessem seus sequestradores, ou como se os escravos fossem os primeiros a lutar em favor da escravidão.


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Idelber Avelar responde

Meu repúdio ao linchamento público de qualquer um por seus hábitos sexuais.

Abaixo texto publicado no blogue Biscoito Fino e a Massa mantido por Idelber Avelar, em resposta ao "escândalo" que protagonizou. Comento em outra postagem.

Idelber Avelar responde

1- Depois de deixar os inquisidores urrarem durante uma semana, coloquemos alguns pingos nos is sobre sexo, privacidade e crimes na internet, em 20 partes.

2- Ouvi calado durante sete dias uma das maiores tentativas de assassinato de reputação da história da internet brasileira, baseada em divulgação criminosa de mensagens privadas.

3- Se estou movendo ações cível e criminal contra os responsáveis, tanto pela violação de privacidade como pela difamação? É evidente que sim. Agora, já em posse da ata notarial que permite a responsabilização penal dos responsáveis, respondo.

4- Em primeiro lugar: os linchadores estão falando de alguém com 29 anos de magistério, centenas de ex-alunas, dezenas de ex-orientandas já professoras e ZERO reclamações formais por seu comportamento com mulheres dentro de sala de aula ou na universidade, além de média sempre, em todos os cursos, superior a 4,5 na escala de 5 pontos através da qual professores/as são avaliados por alunos e alunas.

5- Comecemos por aí, então. É dessa pessoa que estão falando.

6 – Deixei que os inquisidores recolhessem suas “provas” e o que conseguiram?

a) Um print de interação privada erótica com mulher adulta, não só criminosamente publicado, mas propositalmente recortado.

b) Um print de conversa com menor de idade que logo terminou por minha iniciativa e exatamente por isso, à luz da revelação da idade dela.

c) Dois relatos anônimos completamente mentirosos, vejam só, um deles já apagado!, não sem antes ser devidamente registrado em ata notarial.

7- Ou seja: tentaram durante uma semana e não conseguiram UMA, umazinha “denúncia” assinada por quem quer que seja.

8- Ficou alguma dúvida da combinação entre ressentimentos pessoais e ressentimentos políticos que motivou a abundante prática de crimes contra a honra na internet brasileira nos últimos sete dias?

9 – O moralismo reduzido aos métodos do macarthismo e do stalinismo.para assassinato de reputação não conseguiu nada melhor que isso.

10– Sim, gosto de sexo. Sim, falo muito de e faço muito sexo. Com quatro regrinhas claras: consensualmente, com adultas, jamais com chefes ou subordinadas e em privacidade.

11 – Anal, ménage, BDSM, cuckolding: é isso que escandaliza o “feminismo” no século XXI? Coisas que fariam Sade bocejar de tédio no século XVIII? Retrocedemos 250 anos, é isso?

12 - “Feminismo”, sim, entre aspas, pois essa mistura de fogueira inquisitorial, moralismo e misandria nada tem a ver com Beauvoir, Butler, Muraro, Irigaray, Michele Barrett, Chodorow, Mary Wollstonecraft e tantas outras que me ensinaram a pensar e ler o mundo.

13 - Por que são sempre anônimas aquelas que a fogueira inquisitorial chama de "vítimas"? Medo de quê, a não ser de assumir publicamente que também eram parte do jogo, que são donas de seu desejo?

14 – Termos como “abuso” ou “assédio”, aplicados a conversas virtuais nas quais duas partes estão em interação ativa, e para as quais o botão “bloquear” está sempre disponível, só significa uma coisa: a confinação da mulher ao lugar de vítima, como se ela não fosse dona de seu desejo.

15 – Alunas de Tulane foram assediadas por inquisidores em busca de alguma declaração de que eu as tivesse tratado com algo que não fosse profissionalismo e respeito. Conseguiram? NADA.

16- Ex-colegas e ex-orientandas minhas foram caçadas pelo tribunal em busca de alguma manifestação de que eu as tivesse tratado com algo que não fosse profissionalismo e respeito. O tribunal conseguiu? NADA.

17 -- Às centenas de pessoas que me escreveram em solidariedade nos últimos dias: muito obrigado.

18- Às muitas pessoas que me escreveram perguntando como poderiam ajudar, a resposta é simples: divulguem este comunicado entre os amigos e entre aqueles que disseminaram difamação. O comunicado está disponível também em meu Facebook: https://www.facebook.com/idelber.avelar e no Twitter (http://twitter.com/iavelar). E cobrem de blogs, revistas e tuiteiros a veiculação do direito de resposta, tema do qual se reclama tanto quando a “grande mídia” publica algo de que não gostamos.

19- As arrobas que já estão com seus crimes lavrados em ata notarial terão o prazer de descobri-lo por si sós, quando receberem a notificação judicial já em curso.

20- Por motivos que suponho também óbvios, só voltarei a falar do tema depois que transitar em julgado a sentença que, tenho certeza, punirá os responsáveis.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A governabilidade de Dilma não pode ser tiro no pé


Entendemos que a Presidenta Dilma precisa de governabilidade no congresso. Entendemos que se deva fazer concessões às elites para se fazer as transformações sociais possíveis.

O que não entendemos é Kátia Abreu. Por brio, nos recusamos a entender, de fato. Aos que se apressam a defender, sem nem se reservarem ao mínimo um breve luto, deseja-se compaixão.

Mas Dilma não veio à público confirmar Kátia Abreu.

Especular em cima de um nome é o meio mais rápido de derrubá-lo. As críticas aos quase ministros sempre são muito contundentes e ácidas, e os vulneráveis geralmente tombam antes da nomeação.

Se assim fosse Dilma e Lula teriam vacilado ao expor Kátia Abreu às hienas, pois as hienas representam muito melhor eles do que nós, os movimentos sociais.

Tal gesto se assemelha a um sinal de apoio aos 2,5 mil que foram pedir o impeachment na Paulista em um final de semana e um escárnio aos 15 mil que foram na mesma avenida, no meio da semana, apoiar a democracia e a reforma política.

Os 15 mil enviaram um recado.

Um outro recado. Não o que mídia gostaria que a população tivesse mandado para Dilma, aquele dos golpistas, filhos da elite reunidos na paulista para pedir intervenção militar.

Ao recado dos movimentos sociais Dilma não pode fazer ouvidos moucos, senão seu mandado não prosperará. Ficou claro que os movimentos sociais estenderão a mão ao novo governo, e este não pode, em hipótese alguma, manter qualquer distância destes movimentos.

Pelo contrário, deve governar com eles ao lado, diuturnamente, em todos os momentos. Só assim poderá governar como o Brasil precisa. E deseja!

O PMDB já largou Kátia aos leões, dizendo que não entra em sua cota partidária. Se Kátia Abreu foi posta à fritura, eu coloco meu mourão na fogueira. Mas a estratégia foi equivocada, faltou articulação. Ou sobrou Articulação.

Enfim, tomara que caia é o que serve para a ocasião...

Mas é amargo o agradecimento de Dilma ao apoio do MST na reta final das eleições, bem como nas ruas, após as eleições, em resposta aos que queriam seu impeachment.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O braço esquerdo da Dilma


A postura do PSOL foi importante e simbólica neste 2º turno do processo eleitoral de 2014. O Partido construiu sua candidatura de maneira digna e independente, e seus mais proeminente líderes se posicionaram à esquerda no 2º turno, apoiando a candidatura de Dilma.

Sinal dos tempos. Sinal de maturidade. Não de maturidade de um partido ou outro, mas sim da possibilidade de construção um projeto de esquerda para o Brasil e para a América Latina.

Luciana Genro, Jean Wyllys, Ivan Valente, Chico Alencar, entre outros líderes do PSOL, foram fundamentais para a vitória apertada de Dilma. É o desejo de muitos que este 2º mandato de Dilma (4º do PT) seja o mais profundo de todo os mandatos petistas. E o mais à esquerda.

Talvez se possa ousar um governo mais a esquerda, com obstinação pela correção ética e que promova reformas de base: política, agrária, federativa, e tributária - com taxação de grandes fortunas - entre outras. Além de promover a democratização das comunicações, uma pauta antiga e justa da sociedade civil e movimentos sociais.

Mas o Congresso Nacional, não podemos negar, é formado por uma maioria de parlamentares formados na velha escola de política fisiologista. As esquerdas não conseguem a governabilidade sem alianças com o centro, que possui pauta política dispersa, mas com tendências conservadoras em pontos fundamentais para o aprofundamento de um projeto de esquerda.

Para reunir a força política necessária à promoção destas mudanças, precisamos de amplo apoio e mobilização popular. Porém, não interessa a mobilização popular esquizofrênica, sem pauta comum, sem debate de propostas, apenas uma catarse contra tudo e contra todos. Este tipo de pressão popular é facilmente utilizada pela direita para legitimar seu discurso clamando por "mudanças".

A mobilização social que possibilita o avanço do Congresso Nacional em pautas progressistas é a mobilização politizada, com acúmulo teórico e propostas claras. São os movimentos sociais quem reúnem as condições de conduzir tais mobilizações sociais: sem terra, sem teto, sindicatos, comunicadores progressistas, LGBT, mulheres, negros, etc...

Com pressão popular direta sobre o Congresso o cenário a favor de mudanças pode vir a se consolidar, apesar das imensas dificuldades. Caso contrário, não há chances. Caso os movimentos sociais não promovam as mobilizações necessárias, ou escolham como alvo central da pressão o executivo ao invés do legislativo, as chances de avanços à esquerda são mínimas.

Este processo eleitoral apontou para o fortalecimento de um discurso de cunho fascista na sociedade, e as direitas se uniram para criminalizar o PT, como já haviam feito com o MST, e com diversos outros movimentos e partidos de esquerda durante a história.

Esta criminalização é pauta central da direita há uma década e é fortemente apoiada no discurso de ódio, que não se restringe ao PT, mas se estende aos pobres, nordestinos, gays, comunistas, bolivarianos e esquerdistas de todos os matizes. E o discurso de ódio é um monstro que, quando colocado em pé é difícil controlá-lo, mesmo pelos seus criadores.

É momento das esquerdas se unirem para debaterem seus pontos convergentes e intersecções ideológicas, em defesa de uma possibilidade: da construção de um sólido projeto de esquerda para o Brasil e para a América Latina.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Zeca Baleiro: Um Voto Crítico, Mas Convicto




O direito à oposição e o anseio pela alternância de poder são pressupostos básicos de um estado democrático. Desejar e acalentar o sonho de mudanças também é uma natural aspiração de todo cidadão.

Acho o governo Dilma criticável, como todo governo o é. Acho o PT criticável também, como todos os partidos o são. Como todo brasileiro, anseio por mudanças que urgem, embora reconheça que há mudanças políticas em curso neste governo que são louváveis. De qualquer modo, embora Dilma tenha seus pontos vulneráveis, não vejo adversário digno de sucedê-la. Mudar por mudar não me parece conveniente. Um dos argumentos mais usados pelos detratores da atual presidente e seu partido é o de que “estão há muito tempo no poder”. Esquecem que os tucanos há 20 anos ocupam o trono do governo de São Paulo (e há tempos vêm cometendo pecados sem perdão como o desmando irresponsável que gerou a crise de abastecimento de água no estado), isso sem falar nas oligarquias do Maranhão, há 48 anos roendo o osso do poder, e a de Alagoas, há outros tantos anos se perpetuando na política local (e estes casos nem devem ser levados em conta, pois, além de antidemocráticos, são imorais).

Um governo comprometido socialmente deve dirigir o olhar primeiramente aos desfavorecidos, aos excluídos do jogo social, isso é óbvio. Este governo que aí está fez isso. E o que não faltam no Brasil são pessoas vivendo em quadro de pobreza extrema, privadas dos direitos básicos de cidadão, massa de manobra barata para oligarcas usurpadores. Quando o buraco é muito fundo – e o fosso social no Brasil é pra lá de fundo -, não há como não ser assistencialista, infelizmente. Uma das frases feitas que mais me indignam neste pobre debate político (debate entre aspas) é a máxima hipócrita de que “é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe”. Ora, como ensinar a pescar um sujeito devastado pela fome e pela doença?

Outro argumento usado à exaustão é o da corrupção, e não podemos nos enganar - todos os partidos, quando ocupam o poder, caem em tentação, para nossa desgraça. A diferença básica neste Fla-Flu de corruptos é que os do PSDB seguem impunes, os do PT nem tanto. Só a punição exemplar desses bandidos somada à vigilância social mais ferrenha poderá fazer banir esta "cultura da corrupção" que hoje impera no país, ou ao menos reduzir os seus índices.

Não sou petista nem sou apegado a partidos ou candidatos. Voto com independência. No primeiro turno, meu voto foi dividido entre candidatos do PSOL, do PSB e do PT. Isto me parece coerente. Se nos próximos anos aparecer uma grande e confiável liderança política de outro partido, não hesitarei em mudar meu voto, desde que seu projeto tenha viés socialista, único projeto político que penso ser viável no mundo de hoje. Isto também me parece coerente.

O que não me parece coerente é ver a ex-candidata Marina Silva, arauta da “nova política”, anunciando seu apoio à candidatura Aécio Neves. Todos sabemos que a sua trajetória de luta contra os barões malfeitores do Acre a aproxima ideologicamente mais do PT, e não foi à toa que ela assumiu a pasta do Meio-Ambiente no governo Lula. Isto que ela agora faz é velha politicagem, jamais nova política. Sabemos para onde miram os políticos do PSDB, e no que vai resultar um novo governo tucano (e faço questão de afirmar o mesmo repúdio às alianças eleitoreiras do PT com velhos caciques paroquiais como Sarney, Collor e Calheiros).

Se a intenção de parte do eleitorado era destronar o PT e Dilma a qualquer custo, então que votasse num partido mais à esquerda (sim, eles existem) e não num partido que reza na cartilha do datado neoliberalismo que levou à convulsão social e ao desemprego massivo países europeus sólidos como França e Espanha, e que quase levou o Brasil à bancarrota, na era FHC. Este, por sua vez, sociólogo pós-graduado na Universidade de Paris, tem como hobby disparar frases infelizes, como a recente declaração preconceituosa e separatista sobre os nordestinos e seu voto, segundo ele, catequizado. Com todo o respeito que possa merecer, o ex-presidente está na Idade Média da Sociologia. Avançamos muito nos últimos anos em termos de “pensamento social”. Não há porque retroceder.

Votarei em Dilma e, caso ela seja eleita, terá em mim um crítico implacável de seu governo. É assim que entendo o que chamam de democracia. O resto é balela.

P.S.: Peço aos internautas que queiram comentar, criticar ou divergir do meu texto, que o façam civilizadamente, com argumentos embasados, não com ofensas ou baixarias. De baixo, já basta o nível do debate dos nossos candidatos na corrida eleitoral.

Zeca Baleiro

(17 de outubro de 2014)

O erro de Aécio




Aécio Neves assistiu de camarote o PT revelar ao Brasil as contradições de Marina Silva e a fragilidade de sua candidatura. Se preservou, tirou lascas do processo e atacou Marina de maneira dosada, pois precisava ir para o 2º turno. E conseguiu.




Ficando escanteado manteve baixa sua rejeição, enquanto Marina e Dilma pagaram o preço do embate direto. Teve uma votação acima da expectativa e seguiu animado para o 2º turno.




Tudo certo, seria hora de acirrar os ânimos antipetistas, reforçar o bordão da corrupção, ganhar o páreo e sair para comemorar junto com os próceres da elite, barões da mídia, banqueiros, embaixadores, etc.




Mas, havia uma pedra no meio do caminho, chamada moral. O discurso antipetista é, via de regra, acompanhado de um ranço raivoso, apoiado em alguma fala moralista. Como vimos no caso Demóstenes Torres, atrás dos discursos mais moralistas escondem-se imoralidades inconfessáveis.




Décadas foram gastas pela elite e pela imprensa para construir esta narrativa antipetista, uma narrativa emotiva, que apela para a raiva, para o ódio, para o preconceito. Uma narrativa irracionalista, conforme a escola de Washington professa.




Quando Aécio partiu para o golpe de misericórdia, com o machado moralista em riste, se ergueu um escudo petista nas redes sociais. Os petistas, ao contrário do que diz FHC, são muito bem informados e mostraram ao Brasil quem é Aécio Neves.




E mostraram um Aécio muito diferente do Aécio da propaganda. O Brasil viu revelada uma pessoa que não reúne as menores condições de empunhar a bandeira da moralidade, pois convive com uma miríade de escândalos ao seu redor.




Quando Aécio achou que tinha nocauteado a Dilma, beijou a lona da rejeição, pois o Povo Brasileiro parece recusar a agressividade e o destempero para quem quer ocupar o cargo máximo da Nação.




No auge da agressividade Aécio foi derrubado por um tapa dado com luva de pelica pela Dilma: o Presidente do PSDB extorquiu a Petrobras em R$ 10 milhões. A partir deste momento se recusou a responder sobre a Petrobras, desviou o assunto e levantou uma bandeira cinza desbotada.




Ainda tenta se vitimizar, o que não combina com sua postura de galo de briga em rede nacional. Com sua confusão estratégica passou o seguinte recado para o seu eleitor: sou um nocauteador, mas peço água na hora H.




O jogo ainda está sendo jogado, mas agora, tendo que fazer gol, Aécio está desmoralizado. Porque não tinha mesmo condições de se travestir de probo e guiar as hostes antipetistas pelos campos cultivados de ódio. Plantou vento e colheu ventania.




Nesta última semana vamos debater propostas? Pois bem, Aécio parece propor continuar tudo o que Dilma está fazendo e mudar algumas coisas. Para quem acredita no Deus Mercado e nos arcanjos do Estado Mínimo, ele vai mudar para melhor. Já pra quem ganha salário e precisa do Estado para equilibrar o jogo da vida...




É o jogo da democracia que será jogado nesta decisiva semana. A ver... e jogar!

sábado, 4 de outubro de 2014

VOTO RETO

Amigos e famílias,

Escrevemos porque achamos importante. Respeitamos todas as opiniões diferentes, essa diversidade é fundamental...

Escrevemos com nosso coração, porque acreditamos no país que estamos construindo.

Pedimos o voto em Dilma e no PT, porque acreditamos ser esse o melhor projeto para o Brasil hoje.

Tem muita coisa que precisa melhorar? Sim, sempre tem o que melhorar... Porém, precisamos nos apropriar de uma questão muito, muito importante que a Dilma e Lula fizeram que foi tirar 34 milhões de brasileiros da pobreza. E nos apropriarmos com o coração! O voto em Dilma significa acreditar que isso é muito importante e que precisa continuar. Essa transformação mudou a história do Brasil para sempre... dar continuidade para essas mudanças, apesar de todas as adversidades, é o mínimo que precisamos fazer!

Também pedimos o voto em Padilha (gov 13), Suplicy (sen 131) e Paulo Teixeira (dep fed 1398).

Agradecemos a atenção.

Um grande abraço e bom domingo à todos!

Edgard e Anny

domingo, 28 de setembro de 2014

SP: "Non Ducor Duco" Caducou




São Paulo tem em seu Brasão o Lema "Non Ducor Duco", que significa "Não sou conduzido, conduzo". A Capital representa toda pujança do estado mais rico, mais industrializado e mais populoso da nação.

Em 1990 o estado de SP respondia por 37% do PIB, e hoje responde por 31%. Está perdendo espaço. Apesar de ser o estado mais rico tem educação ruim, paga mal sua polícia, criou o PCC, sofre com falta d'água, com o flagelo do Crack tem esgoto a céu aberto e incrível concentração de renda.

SP com suas macro-urbanizações caóticas detém a maior concentração nacional do fenômeno de periferia, e sua perversa associação ao crime. Associação midiática, racista, que se associa à matança de jovens negros, vítimas do preconceito e da segregação social. A violência policial e a ausência do Estado acabam de compor um cenário explosivo para a violência urbana.

O Governo tucano de SP patina na solução do problema de mobilidade urbana nas regiões metropolitanas ao mesmo tempo que tem 56% do seu financiamento de campanha oriundo da corrupção no Metrô e na CPTM.

O povo paulista convive com o crime, a poluição, a corrupção, falta de saúde, de educação e até falta d'água, mas mantém a empáfia e de que é o estado condutor da nação.

Conduzindo pra onde?

O Governo tucano de São Paulo está na contramão da história e não se dá conta de sua solidão nacional, só quebrada pela solidariedade do DF, outra ilha sob influência da elite de grosso calibre. SP é disparado o estado mais reacionário da nação, de pensamento mais atrasado e mais conservador.

O pensamento político vigente no estado: os outros são os outros. Terra fértil para o mando do PSDB, por isso Dilma está atrás nas pesquisas somente aqui e no DF. Como diria Celso Furtado, a elite do Brasil é predatória. O povo não, mas a elite paulista é predatória do resto do país, é parasitária do sub desenvolvimento alheio, se aproveita economicamente da falta de estrutura dos outros estados.

O mais duro é ver parte do povo seguir esta elite tresloucada, que se estivesse solta no controle da nação nos levaria para o abismo em troca de brioches e espumantes no café da manhã.

O povo paulista é refém de uma esquema cíclico de aprisionamento político, pois o Governo do Estado não cumpre seu papel, deixa a cargo dos municípios a manutenção das políticas públicas, o pagamento dos encargos e custeios dos seus programas, e devolve os mesmos recursos, apropriados indiretamente, como miçangas eleitorais. Cada vez o Município se enfraquece mais e vira prisioneiro político do Estado.

O Paulista precisa superar essa sua Síndrome de Estocolmo e se desvencilhar emocionalmente do seu sequestrador. Chega de Alckmin, chega de dinastia tucana em SP.

Padilha é preparado, ágil e moderno e é, de longe, o melhor candidato para o Governo de São Paulo. Implantou o Mais Médicos em tempo recorde, e sob o seu comando o SUS se estruturou em um patamar superior de organização em gestão de recursos. Foi o articulador político de Lula no segundo mandato. 

Quem conhece sabe que ele trabalha duro, não tem hora, não tem local. Seus assessores precisam se revesar para acompanhar seu ritmo, e isso não é lenda, é verdade. Quem teve o mínimo de convívio com o Padilha sabe o quanto isso é verdade. O homem é um trator para trabalhar e, além de tudo, é genial. É uma pessoa arguta, com uma liderança rara e dono de um raciocínio de rapidez e precisão insuperáveis. Não é a toa que conquistou a admiração e a confiança do Lula

O Estado de SP precisa de uma mudança de verdade em seu caminho, pois o que está sendo percorrido não é digno de ser seguido pelo resto do país. Esta situação deslegitima SP como condutor da nave, posto do qual sempre pode ser apeado a qualquer momento.

O pensamento paulista está envelhecido, está caduco. O lema deixou de ser seguido. "Non Ducor Duco" não representa mais o povo de São Paulo.


A Política Maldita



Falar mal da política virou diversão nacional.

Há muito tempo que maldizer e zombar dos poderosos é uma forma de vingança social em situações de desigualdade social e opressão. Quando o popular ironiza o padre, o policial, colonizador, o nobre, o juiz, é como se invertesse o jogo da opressão, punindo com o humor aquele que oprime no dia a dia. A comédia é uma válvula de escape para a pressão social que ajuda a equilibrar conflitos. Zombar do político também é uma forma de inverter simbolicamente o jogo.

Entretanto, para muito além do esculacho popular, a negação da política está assumindo feições de ódio nas vozes da classe média alta e da elite. O mais forte discurso de criminalização da política hoje vem dos setores mais conservadores da sociedade e representam seus interesses.

Talvez seja uma manifestação de descontentamento da elite, com a contestação do status quo, com milhões e milhões deixando a pobreza e "ocupando" espaços antes exclusivos dos ricos. É insuportável para alguns ver pobres nos aeroportos. O Status Quo tradicional foi abalado nos governos Lula e Dilma.

É justamente golpear ou manter o status quo é o que diferencia a esquerda da direita. Algum tempo atrás entrou em moda dizer que não existia mais esquerda e direita. Essa moda passou. Hoje o que está em pauta no Brasil é a legitimidade da representação da esquerda e da direita. Quem é quem, é isso que importa no debate atual.

A direita no Brasil sempre teve grande adesão comportamental, mas pouca sustentação teórica e sofre com ausência de um consistente projeto político de longo prazo. Não temos grandes intelectuais de direita no Brasil, apenas diversos panfletários eruditos.

A combinação de platéia com a falta de discurso deixou uma grande parcela dos conservadores politicamente órfãos, o que forçou um deslocamento à direita da social democracia no Brasil, e seus antigos representantes a afinarem o seu discurso com o diapasão reacionário, reforçando as únicas bandeiras reacionárias de caráter geral: privatização, estado mínimo, isenção de impostos para o capital, enfim, neoliberalismo.

Este mesmo vácuo de poder à direita sugou o PT para o centro do espectro político, se transformando-o em um partido de centro-esquerda. E foi o PT que cumpriu no Brasil o programa da social democracia: o estado de bem estar social, que não representa o estado mínimo, muito pelo contrário, requer um estado forte para promover bem estar social à população.

Nesta busca por justiça social, o PT se manteve firme ao primeiro ideal da esquerda: alterar status quo; incluiu 34 milhões de pessoas na classe média e mudou a cara do Brasil. Temos que admitir que não cumpriu um centímetro do caminho rumo ao socialismo, mas bagunçou bem o tabuleiro dos grandes interesses.

No entanto esta transformação social promovida pelo PT gerou profundo incômodo na elite, e hoje se avizinha um cenário de luta de classes sendo delineado, para incredulidade de muitos ex-esquerdistas e ultra-esquerdistas.

A direita tem todas as armas: bancos, indústrias, comércios, jornais, tvs, igrejas, partidos, sindicatos patronais, sociedades "secretas", etc. A esquerda só tem a si mesmo, seus movimentos sociais, sindicatos e partidos.

Logo, se criminalizarem a política, se desmoralizarem ao máximo o Fazer Política, transformando-o em um ato vergonhoso, vencerão. Com a criminalização da política a direita perde um pouco, mas a esquerda perde quase tudo.

Este é o jogo que está posto. É jogar ou ser jogado.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A Sinuca de Bico chamada Marina



A entrada da Marina na disputa presidencial causou uma sinuca de bico em todo mundo.

O PT ficou sinucado porque já dava a eleição da Dilma como favas contadas, só estava em dúvidas se teria 2º Turno ou não. Agora já dá como certo o 2º Turno, e pode ter uma candidata mais competitiva no páreo. Os Petistas colocam as barbas de molho mas não mudaram a estratégia, até porque quem tem os resultados dos Governos Lula e Dilma para mostrar, não sobra muito tempo para falar dos adversários. É mostrar o que fez e desconstruir o discurso de ódio contra o PT repetido pela mídia e pela direita mais conservadora.  

Sinucados mesmo ficaram os Tucanos, que perderam o 2º lugar na disputa para a Marina, e correm sério risco de ficarem de fora do 2º Turno pela 1ª vez desde 2002, o que significaria uma derrota simbólica estrondosa para o partido e para o seu séquito conservador. Uma derrota ampliada pelo sumiço do DEM do cenário político nacional, o que deixa a direita tradicional sem representante nato.

Ou seja, os Tucanos precisam atacar Marina para terem chance de ir ao 2º Turno. Mas não podem bater descaradamente e de maneira oficial, pela boca do próprio candidato, senão, em caso de ficarem em 3º lugar, eles se colocam em situação delicada para apoiar a Marina em um eventual 2º turno contra a Dilma. Como assim, falaram tão mal e agora apoiam?

Todos já sabem como eles vão fazer para bater sem mostrar a mão, vão usar o maior partido político clandestino do Brasil: a mídia. A Veja já começou escalando o seu cachorro louco para desconstruir a Marina. Logo, logo, seus mais acéfalos seguidores vão começar a reproduzir o discurso, o que vai aumentar a rejeição da Marina entre a direita fundamentalista, dificultando um pouco o segundo turno para a neo-PSBista. Até porque a elite conservadora tradicional não confia na Marina de jeito nenhum.

Aécio no 2º Turno é um candidato pouco competitivo, e ele tem potencial de atrapalhar Marina com seu eventual apoio. 

Aí entramos na maior sinuca de bico: a da própria Marina.

Marina está em uma situação muito pouco confortável. O PSB, liderado por Campos, tinha fechado grandes acordos com setores conservadores, acordos estes que o partido colocou no papel e exigiu de Marina a sua assinatura para lhe dar a vaga de candidata. Deu o recado em alto e bom tom para todos: não confiamos em Marina. 

Marina ainda representa uma forte ruptura dentro do próprio PSB, que é uma espécie de PMDB com roupagem mais moderna, pois alguns de seus caciques já debandaram. O Secretário Geral e ex-coordenador de campanha Carlos Siqueira declarou: "da Marina quero distância", pouco depois de ter sido substituído por Feldman, que por sua vez já foi substituído por Erundina na coordenação da campanha. Logo a Erundina que declarou: "Marina Silva deseduca a sociedade".

Tem mais. Para se ter uma ideia do enrosco, o vice da Marina, Beto Albuquerque, é um ruralista. Quem diria que a defensora do meio ambiente teria como vice um ruralista? Que ironia! E de quebra vem o apoio da Monsanto, aríete dos transgênicos e inimiga número um dos ambientalistas. E os 3 maiores doadores de campanha de Campos são do setor do agronegócio: Atasuco, fabricante de sucos - R$ 1,5 milhão, a JBS, produtora de carne - R$ 1 milhão e Cosan, produtora de açúcar e álcool - R$ 1 milhão.

Falando em financiamento de campanha, além do já previsto aporte da Natura, agora é o Itaú que aporta na campanha de Marina através da herdeira Neca Setúbal, o que causa uma dúvida: se eleita presidente Marina de esforçaria para cobrar a dívida de R$ 18,7 bilhões do Itaú com o Governo Federal? Uma situação incômoda.

E por falar em incômodo, precisamos lembrar que Marina construiu sua história de vida dentro da militância política de esquerda, mas agora está tendo que ficar lado a lado com Serra, Alckmin, Heráclito Fortes, Jorge Bornhausen e, pasmem, Ronaldo Caiado, direitista raivoso e mais famoso ícone da bancada ruralista. 

É, a Marina vai ter que se explicar bastante se quiser continuar no páreo. Na outra eleição a imprensa tucana só elogiou, porque cada voto seu era um voto a menos para Dilma, na conta deles. Mas agora cada voto seu é mais um aceno de adeus para Aécio Neves. E cada pedrada hoje complica o discurso de aliança no 2º Turno.

Sinuca de bico.



domingo, 10 de agosto de 2014

O que é informação?


A informação é a percepção de um signo que altera um estado de certeza.

Comentários acerca do conceito acima enunciado.

Introito

Antes de qualquer outra exposição, cabe dizer que os conceitos são todos utilizados por empréstimo, são adulterados, apropriados, ressignificados e recompostos.

Não será negada qualquer inspiração, mas não passa disso: inspiração. Os conceitos, quando apontada sua matriz, que não se busque uma aplicação coerente com a original, pois não é este o caso. No entanto, por honestidade intelectual, vamos citar, na maioria das vezes, de onde sacamos uma ideia, mesmo que ela já não guarde muita semelhança com a fonte.

Aqui também não se pretende estabelecer qualquer verdade, mas sim oferecer uma interpretação. Não se trata de estabelecer um raciocínio irrefutável ou imune à crítica. Trata-se apenas de construir uma ferramenta cognitiva, que sirva para elaborar algum outro tipo de pensamento que seja válido, útil ou lúdico.

Percepção

A informação existe sem um receptor? Essa pergunta é muito difícil de ser respondida, e não há conclusão fácil. A princípio sim, podemos crer que a informação existe independente do receptor.

Por exemplo: o céu noturno contém muita informação para quem sabe interpretar, e existe independente do homem. Certamente podemos considerar o céu como informação, mas não como mensagem.

A mensagem implicaria a existência de um emitente, um meio e um receptor. Vejamos, um bilhete possui um emitente: quem escreve; um meio: o papel; e o receptor: quem lê.

Mas no caso do céu não há um emitente, a não ser que consideramos que o emitente seja Deus, o que implicaria um teísmo e, logo, na irrefutabilidade da tese, que nos termos de Karl Popper reduziria sua condição de proposição racional, quiçá científica.

Assim sendo, o que faz do céu uma informação é tão somente a existência da percepção deste por um receptor. Esta concepção deve agradar muito aos existencialistas e aos seguidores da fenomenologia, tornando as manifestações como fonte potencial de informação.

Signo

O entendimento como signo, na semiótica de Peirce, é devido a ampliação para além da linguagem, como registrava Saussure, podendo ser aplicado a outras formas de comunicação.

Como exemplo podemos citar a marca feita em árvores por ursos para delimitar seu território. Não é uma linguagem no sentido estrito, mas é um signo que pode conter muita informação, talvez vital para alguém andando na mata.

O signo, a rigor, poderia ser excluído do enunciado, podendo restar apenas: “a informação é uma percepção que altera um estado de certeza", o que o deixaria mais curta e elegante. Mantivemos o termo signo para não colocar todo o peso da definição na percepção, desconsiderando assim completamente o meio.

Certeza

Aqui entramos no campo da cognição e da lógica, posto que o conceito de certeza é de difícil apreensão. Precisamos então buscar a definição de Newton da Costa de conhecimento, como sendo uma "crença verdadeira e justificada". Precisamos separar certeza de conhecimento.

Uma certeza pode não corresponder ao conhecimento. Podemos ter certeza de algo que não pode ser verificado, ou que não pode ser justificado. Por exemplo: podemos ter certeza que o Zé está vivo, porque o vimos ontem, mas neste meio tempo o Zé pode ter morrido, apesar de minha certeza não ter sido abalada.

A certeza guarda relação direta com a crença. No caso, eu posso acreditar que tal pessoa está viva, e isso é uma crença, que leva ao estado de certeza. Mas esta certeza pode não ser verdadeira, pode não corresponder à realidade.

Podemos tomar como exemplo um paradigma superado. Era uma certeza medieval que o Sol orbitava em torno da Terra. Este é um bom caso sobre como a informação pode levar ao aperfeiçoamento do conhecimento.

Foram as informações oriundas do céu, percebidas por Kepler e Galileu, que levaram a alteração deste estado de certeza.  A certeza foi alterada por uma verificação que a crença medieval não correspondia a realidade, não era verdadeira.

Mas, para além de uma crença ser verdadeira, para se tornar conhecimento, deve ser também justificada, ou seja, ser comprovada através de argumentos racionais e científicos. No caso da órbita da Terra em torno do Sol, os modelos matemáticos justificaram a nova crença, tornando-a conhecimento.

Mas por que a informação deve ser definida como algo que altera uma certeza, e não como algo que acresce o conhecimento? Porque a informação pode ser falsa. Alguém pode me dizer que o João morreu, e ser mentira, mas não deixa de ser uma informação por ser falsa, é apenas uma falsa informação. Até então eu tinha certeza que o João estava vivo, e agora essa certeza foi abalada.

Originalidade e Redundância

Chegamos então a necessidade de alteração de um estado de certeza para comentar o último elemento de nossa definição.

Uma mensagem completamente redundante, que não altera o estado de certeza (ou de incerteza), não pode ser considerada informação. Se leio uma manchete de jornal: "Chacrinha morreu", essa mensagem não altera meu estado de certeza, pois já era de meu conhecimento que Chacrinha morreu.

A mensagem plenamente redundante não é informação. Mas não é informação para ninguém? Pode ser sim uma informação, pois, alguém desprevenido pode acreditar que o Chacrinha ainda está vivo, então para essa pessoa, a mensagem será original e de fato informará.

Isso confirma a relação da informação com o receptor, pois é no receptor que se resolve a redundância ou a originalidade da mensagem. A redundância não deixa de ser uma informação, pois se alguém me diz que João morreu, eu posso não acreditar, mas se 3 pessoas disserem, aumentará a minha certeza de que isso é um fato. A redundância ajuda a fixar a mensagem para o receptor.

Mas acima de uma certa taxa de redundância a mensagem deixa de ser informativa e se transforma em mera repetição, não fazendo mais diferença para o estado de certeza do receptor. Esta correlação, no binômio de Deleuze, entre Diferença e Repetição é fundamental para o entendimento do que é, e do que não é informação.

Vida

Por fim, olhemos para o DNA. Chega a ser um lugar comum que o DNA contém informação genética. Vamos testar a definição. O DNA leva a presente definição ao seu extremo, e é necessário um esforço de entendimento para a tornar aderente ao conceito.

O DNA é um código, que é contido no seu próprio meio: o cromossomo. Esse conjunto pode ser considerado um signo, pois sua "interpretação" pelo ser, ou pelo novo ser, carrega uma instrução, para agir, ou se desenvolver de uma determinada maneira.

O DNA não é "percebido" pelos sentidos, mas sim quimicamente, o que não deixa de ser uma percepção, assim como uma ameba "percebe" seu meio e reage a ele através de relações químicas. Levando ao extremo, nossos sentidos são processamentos cognitivos de percepções físicas e químicas. O que seria do paladar sem as reações fisico-químicas?

Por fim, o código contido no DNA altera o estado de incerteza do ser em questão. Se antes não seria possível afirmar que o ser seria alto ou baixo, o código contido no DNA confere esta certeza, que tal ser será ou alto, ou baixo. Após a informação contida no DNA ser "percebida" pelo ser, não resta dúvidas sobre a instrução a ser seguida.

Fica clara uma acomodação do exemplo para caber no conceito, mas o exercício que propomos não é o de espremer o conteúdo para caber no recipiente, mas sim alargar o recipiente, ampliar o entendimento do que é signo, percepção e certeza.

Este alargamento conceitual pode nos levar a contemplar a vida de outra maneira, estendendo ao íntimo de todo e qualquer ser a experiência cognitiva, ampliando assim as portas da percepção e da significação.

sábado, 12 de julho de 2014

Para um país em que FUTEBOL É MÁFIA, 7x0 foi pouco


Diagnóstico
CBF é uma máfia
Jogadores saem do país ainda menores de idade
Clubes são máfias
Futebol europeu gera renda com a transmissão do futebol e consegue pagar craques
Globo não deixa a transmissão do futebol brasileiro ser um sucesso internacional
Futebol brasileiro não gera renda com venda de direito de imagem
Torcidas organizadas são violentas

Prognóstico
CBF deve ser pública, profissional, transparente e séria
Brasil precisa gerar renda com o seu campeonato, inclusive com transmissão
Calendário de jogos deve ser anual e permitir o treinamento de times (jogos 4a e domingo não permite)
Brasil deve segurar seus craques no Brasil
CBF deve ser substituída por outra liga e ter formação de jogadores de base
A Liga que substituir a CBF deve ter um time base e treinar diversas vezes ao ano
A Liga substituta deve complementar o salário de craques para continuarem a jogar no Brasil

Conclusão
Para um país em que FUTEBOL É MÁFIA, 7x0 foi pouco
Fora Máfia da CBF e da Globo

sábado, 28 de junho de 2014

EUA financiam a onda de protestos mundo afora



Governos que não são subservientes aos interesses americanos devem cair.  Brasil incluso, claro.

Irã, Ucrânia, Egito, Líbia, Venezuela... Todos estes países foram ou são vítimas de uma mesma estratégia: desestabilização de governos através de protestos que exploram os ódios internos do país.

Financiadas pelos EUA ONGs "internacionais" promovem cursos de "protestos não-violentos", enquanto grupos se infiltram para promover baderna e violência.

Os "movimentos revolucionários" enlatados estão no Brasil também, usando inclusive movimentos sociais legítimos como massas de manobra.

Assista e tire suas próprias conclusões.




sábado, 17 de maio de 2014

A CIA na Copa?



O estilo de agitação política em torno da Copa é típica da CIA. Basta recordar o Irã em 78, e como a CIA agiu para desestabilizar politicamente o país. Basta olhar para os desafetos políticos na América Latina dos EUA.

O método da CIA é utilizar a raiva, o ódio e o preconceito do povo aplicados aos seus assuntos mais sensíveis para provocar agitação política e desestabilizar o sistema para preparar o terreno para que o povo aceite um golpe de estado.

Hoje no Brasil o judiciário é quem está pavimentando o caminho do golpe, mas dessa vez um golpe brando, e não militar. A via eleitoral será tentada primeiro, e as principais apostas são obviamente apontadas para os tucanos.

A falta de clareza política da população facilita o trabalho dos golpistas, fertilizando o solo para que se plante a discórdia através de falsas polêmicas e cortinas de fumaça ideológicas.

Teoria das conspiração para uns, possibilidade para outros, mas uma única certeza: a CIA mostraria a mão...

Leitura recomendada: Confissões de um Assassino Econômico - John Perkins.

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