quinta-feira, 2 de julho de 2009

Os heróis da pátria

Sarney criou Agaciel Maia, Renan o deu poder e todos foram receptivos às suas bondades. O problema não é do Senado, do seu Presidente ou do conjunto dos Senadores, o problema é do Brasil. Arroubos de moralismo, atos justiceiros e punições exemplares não solucionarão o problema: o individualismo político. Coro com Brecht "infeliz a nação que precisa de heróis". Sarney tentou se livrar da crise pousando de herói nacional que gostaria de ter sido. Lula, um verdadeiro herói, defendeu o direito do Sarney de se pensar herói. Artur Virgílio, um tenta ser herói derrubando Sarney.

E ninguém discute a vergonha nacional que é precisar destes candidatos a heróis, de precisar de salvadores, de messias. Derrubar o presidente do senado não resolve nada, mas satisfaz a sede de sangue da dita opinião pública. Os pensadores da elite midiática olham para a política como um jogo de interesses rasos, não como uma necessidade humana de longo prazo. Apenas querem que o sangue honre a moral republicana, que as punições sejam rígidas, que exemplos sejam dados.

Que tal pararmos para pensar que o senado representa sim o povo brasileiro. Em todos os sentidos, representa pelo voto, representa por ser a imagem do país, e representa por ser um grande palco onde a moral é o enredo. O que está errado. Os senadores? Todos? Seria uma imensa picardia pensar assim, que o câncer é o senado ou os senadores. Obviamente não é, e esta atitude serve somente para ocultar a vergonha própria que cada um sente nestes momentos.

Culpar alguém é um mecanismo de proteção psíquica para auto-imagem de cada um. Ninguém quer assumir a realidade de se ver representado nesta casa, e ao invés de modificar a estrutura da representação política, os nobres senadores enviam seus primeiros culpados à fogueira para salvarem seu esquema de representação política, que favorece o herói individual, o salvador, o líder. É como o lobo que come a pata para se livrar da armadilha, mas não consegue desarmar as outras armadilhas que existem na redondeza. Reforma política é a única solução, e deve haver uma constituinte para isso.

A saída do Sarney não é um imperativo ético como vem sendo bradado, mas sim uma jogada de política pequena, de interesses individuais, de prazo curto. O Sarney é indefensável, por representar a caricatura de um herói, mas derrubá-lo como solução do problema é hipocrisia e oportunismo, e no fundo só serve para deixar tudo como está. Muda-se o verniz e continua a madeira podre por dentro. Reforma constituinte é a única oportunidade séria para reforma política no país. É necessário desestimular o heroísmo político, reforçar os mandatos coletivos e passar a considerar a imprensa como um ator do jogo político, e não como um observador isento.

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