quinta-feira, 23 de julho de 2015

O encontro do PT com a autocrítica

No seu congresso o PT não conseguiu fazer qualquer autocrítica relevante, o que é um sintoma bastante ruim. A capacidade de autocrítica é um componente importante de uma organização que sabe corrigir seus rumos.

O PT como um todo foi subjugado por uma de suas correntes internas, a majoritária, que sempre dominou o partido. Para a corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), ex-Campo Majoritário, ex-Articulação, as criticas ao partido seriam como um reconhecimento do seus erros, uma vez que não perde votações no partido.

Esta autocrítica seria necessária, seria uma clara evidência que o partido está vivo e que não se confunde com o governo, ou que pelo menos não é menor que ele. Esta sinalização não veio, traduzindo uma situação incômoda: a organização trabalha para a sua direção e não o contrário.

O PT resolveu abafar as críticas internas para que não se demonstrasse falta de unidade ou falta de controle do grupo hegemônico sobre o partido. Se o objetivo era não apresentar as debilidades aos predadores, apresentou-se uma organização envelhecida, cujo resultado prático é o mesmo.

Ao evitar a crítica à política econômica recessiva e pró cíclica o PT flerta com o neoliberalismo e rompe mais uma vez com a tradição de esquerda, de ampliar investimentos públicos para contornar as crises econômicas e aquecer a economia. Distancia-se assim um pouco mais do imaginário de sua base social, que aguardava outra atitude do governo e do PT.

Sabe-se que o governo nunca vai ser a esquerda do partido, mas o que não se pode deixar acontecer é que o PT deixe de estar à esquerda do governo sem postura crítica. Quando o medo da crítica interna assola a estrutura partidária,  apresenta-se um sintoma muito sério de que o Partido enrijeceu, e tudo que é rijo é mais fácil de quebrar.

Autocrítica é o mínimo que o PT deve produzir enquanto reflexão teórica. Não a autocrítica cobrada pela mídia, mas sim a autocrítica militante 


segunda-feira, 30 de março de 2015

Brasileiro indignado: um prato cheio para a CIA


Todos os países com governos de esquerda na América Latina estão passando por um processo de desestabilização política através de um método antigo da CIA: utilizar os ódios internos do povo contra si mesmo e rotular os governos de corruptos para derrubá-los.

Este método é utilizado pelos serviços discretos dos EUA em diversos países desde a década de 50, com mais ou menos sucesso, a depender da acuidade intelectual das lideranças nacionais de cada país e do grau de entreguismo de sua elite. As intervenções americanas vão desde agitação política até golpe de estado ou guerra aberta.

Para refrescar a memória: Síria (1949), Irã (1953, 1980), Guatemala (1954), Cuba (1959), Congo (1960), República Dominicana (1961), Iraque  (1963), Vietnã do Sul (1963), Brasil (1964), República do Gana (1966), Iraque (1968, 1973 e 1992-95), Chile (1973), Afeganistão (1973), Argentina (1976), Afeganistão (Década de 1980), Turquia (1980), Nicarágua (1981-1990), El Salvador (1980-1992), Camboja (1980-1995), Angola (Década de 1980), Filipinas (1986), Guatemala (1993), Sérvia (2000), Venezuela (2002) e Haiti (2004).

No manual de intervenção internacional o primeiro capítulo é sobre a cooptação da elite nacional. É frequente na história recente a colaboração de líderes nacionais, órgãos de imprensa e altos executivos com os interesses americanos em troca de recompensas materiais. WikiLeaks deixou claro com quem a embaixada americana conversa no Brasil: tucanos e representantes da grande imprensa.

No segundo capítulo vem o financiamento e a organização de grupos com o objetivo de promover a desestabilização política de governos não alinhados com os interesses americanos. Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina e Brasil apresentam sintomas semelhantes, oriundos da mesma cartilha.

Eis que se constata que o rapaz que lidera o movimento "Vem Pra Rua", Rogério Chequer, consta na lista vazada pelo WikiLeaks  como destinatário de mensagens da Statfor, um suposto braço da CIA. É um fio que, se bem puxado, pode mostrar como se faz um tecido com a meada yankee.

É disso que se trata, de desvalorizar, fatiar e privatizar a Petrobras, quebrar grandes empreiteiras brasileiras e substituí-las por americanas, paralisar o BNDES e impedir que o Brasil invista em infraestrutura e se torne uma potência de fato.

No tiroteio ideológico são manobradas as raivas e ódios internos de maneira que o resultado seja uma afronta aos interesses nacionais. É exatamente isso que está acontecendo hoje em dia: os indignados úteis foram envenenados pela fúria anti-PT e estão se permitindo serem utilizados como massa de manobra para os interesses americanos.

Se pode concluir que a CIA é mais efetiva que a direita nativa para colocar em curso um processo de desestabilização política e, ao fazê-lo, o faz direcionado aos seus interesses, claro. E resta ao conservadorismo local aplaudir os bárbaros em seu caminho de destruição, sem se darem conta de que aplaudem a entrega de seu próprio país aos interesses do império.

A elite local, engenhosamente, manda ao sacrifício todo o rebanho para livrar o gado dos carrapatos. E como tem carrapato... que o digam o Irã, Afeganistão, Nicarágua, El Salvador, Venezuela, etc.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Saída sem classe de Marta Suplicy



Marta Suplicy está atirando livremente contra o PT e contra o Governo Dilma, principalmente contra a própria Dilma.

Quais são os interesses de Marta Suplicy? São claros: a) fabricar argumentos para deixar o PT sem perder o mandato de senadora; b) se aconchegar no seio do conservadorismo paulista; c) se vingar de todos que não serviram ao seu projeto pessoal de poder.

Marta deixa claro que a política para ela é uma política palaciana, com intrigas de bastidores e traições dentro da corte, uma política sem povo, uma política sem classes, na qual o povo deve apenas confirmar pelo voto as escolhas feitas anteriormente pelo iluminados.

Marta se sente parte desta elite palaciana, se apresenta como vítima das intrigas e como portadora de um indelével pedigree patronal, ao fazer coro com a banca do mercado sobre a necessidade da equipe econômica não ser subordinada à Presidenta Dilma.

E a apresentação do certificado de pedigree, ao se colocar como interlocutora com os "30 PIBs paulistas", foi totalmente desnecessária. Qualquer quatrocentão do Clube Paulistano diria que foi um grande mico ostentação.

Mas o que mais saltou aos olhos foi o entendimento de Marta sobre o processo histórico, uma visão Hegeliana de são os indivíduos históricos que são portadores do espírito do mundo, muito distante de uma visão Marxista de que são as contradições de classe que movem a história.

Mas Marta não tem consciência desta sua visão de história, é inconsciente, é interiorizada. Marta não é classe trabalhadora, nem classe em si, nem classe para si.

Sentia-se confortável no PT enquanto era charmoso ser petista, era cult, era moda entre intelectuais "rebeldes". Hoje, que o PT foi vitimado pelo sucesso do seu pragmatismo eleitoral e pela incessante campanha de difamação midiática, esta roupa não lhe cabe mais.

Mas não foi o PT que mudou, e inclusive o caminho de pragmatismo trilhado pelo partido sempre foi defendido por Marta e por seu grupo político, grupo aliás que se desmanchou.

A manutenção de seu grupo político dependia da sua capacidade pessoal de distribuir benefícios políticos, e quanto menor se tornava seu espaço político, menor ficava seu grupo. E quanto menor ficava seu grupo, menor seu espaço político. Se a "vingança" de Marta é contra quem lhe tirou espaço político, deveria se vingar de si mesma.

Até chegarmos ao ponto de o PT não ser mais conveniente para Marta. Em sua visão particular seria melhor sair pelas portas dos fundos, promovendo intrigas e fornecendo versões particulares dos fatos que agrada a mídia. É mais uma pedra para jogar na Geni.

Marta será usada pela mídia, terá seu palanque provisório garantido, mas talvez encontre ocupada sua cadeira na mesa de jantar da nobreza quando voltar do seu churrasco na lage.

Marta pode acabar sendo rejeitada pela esquerda por sua postura desleal, e pelos conservadores por ser uma antiga traidora de classe.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A Síndrome de Estocolmo e o sequestro da opinião pública



A mídia hoje de fato detém poder real, e este poder está a serviço de certos interesses. É demais pedir a qualquer um que seja ingênuo o suficiente para acreditar que as intenções destas corporações são as melhores possíveis, carregadas de bondade, altruísmo e compaixão universal.

Estas corporações devem ser tratadas como tais: corporações. Com seus interesses empresariais, políticos e sociais antes de tudo mesquinhos, voltados para sua própria preservação e para promover uma vida de luxo para os seus chefes e trabalhadores mais graduados.

Se constitui ou não um 4º poder, este é um debate a ser feito. O fato é que este agrupamento de corporações de mídia se comporta como um poder político, que participa como protagonista cotidiano na disputada eleitoral em uma situação extremamente confortável, pois não está totalmente sujeito às regras do jogo.

A mídia brasileira quer continuar acima das regras, ao largo da lei. Quer continuar a portar a licença para matar, para assassinar reputações, para distorcer a realidade, para usar a manipulação da informação como fonte de poder e lucro.

Jogando mais uma vez o jogo político, a mídia empunha todas suas armas para travar uma guerra contra a democratização da comunicação e a regulação econômica. E suas armas contam novamente com a desinformação da população, presa fácil para os argumentos maniqueístas.

Só pessoas desinformadas não são capazes de reconhecer o maniqueísmo e se livrarem da sua capacidade de manipulação em massa das mentes. O argumento de fundo é tão simplista, que denuncia a precariedade do debate político no Brasil, a fraqueza da formação política do nosso povo.

Nas entrelinhas estas corporações dizem todos os dias para sua audiência: todos os esquerdistas são maus, em especial os petistas, e eles querem calar nossa voz, que é a única que defende a verdade e o interesse nacional.

Tentar manipular uma outra mente usando o maniqueísmo, é insultar a inteligência da pessoa alvo. Mas quando a audiência acolhe tal argumento, e ainda o reproduz com claro regojizo, se evidencia a prova do grau de nocividade cognitiva que tal imprensa produz na população.

Em resumo: a mídia tem interesses, estes interesses não são "nobres", não são coincidentes com os interesses do povo, e a ampla falta de regulação lhes interessa e lhes favorece. Esta imprensa divide o mundo entre bons e maus e rotula como mal intencionado qualquer um que defenda interesses contrários aos seus.

Sem se dar conta de que atua como massa de manobra parte da população sai em defesa dos interesses dos outros, dos interesses da mídia, como se fossem seus próprios interesses. As corporações de mídia defendem a pura liberdade de manipular e conseguem fazer com que seus manipulados sejam os primeiros a oferecerem seus corpos como escudos humanos nesta guerra.

É como se os sequestrados defendessem seus sequestradores, ou como se os escravos fossem os primeiros a lutar em favor da escravidão.


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