sábado, 12 de dezembro de 2009

O mito da tecnologia

Joseph Campbell sampleado do DVD "O poder do Mito"

"Não deixo de pensar que o computador tem a sua própria personalidade. Ele me dá respostas e se comporta de uma maneira imprevisível. É uma máquina quase viva. Eu poderia transformá-la em um mito. Na máquina eu identifiquei um deus que me pareceu um Deus do Velho Testamento, com um monte de regras e nenhuma compaixão. Há uma hierarquia de anjos, todos nas placas, e os condutores são um milagre.

Com meu computador tive uma revelação sobre a mitologia. No software há um conjunto de sinais, que levam a realização de um objetivo. Uma vez que você digitou um termo, se começa a brincar com sinais que pertencem a outros sistemas. O código exige que você use certos termos. Assim também é na mitologia. Cada religião é uma espécie de software, que tem o seu próprio conjunto de sinais e funciona.

O mito encorpora a máquina. Nós ainda não temos uma mitologia que incorpore o computador. Os novos poderes estão sendo surpreendentemente anunciados por meio daquilo que as máquinas podem fazer. Ainda vai levar um tempo até podermos ter uma mitologia. Estamos vivendo sem mitos.

A função básica do mito é abrir o mundo para a dimensão do mistério. Se você perde isso, fica sem uma mitologia para perceber o mistério subjacente a todas as formas. O mito tem uma funções cosmológicas, sociológicas e pedagógicas."

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Reforma política já! Pelo Financiamento público de campanha

O que significa o escândalo Arruda? Generalizações como "político não presta, é tudo farinha do mesmo saco", ou "brasileiro é corrupto por natureza" são preconceitos e não revelam a realidade. Temos que admitir que nosso sistema político contém equívocos gravíssimos. O escândalo Arruda significa que o sistema político está falido, esgotado, defasado, obsoleto e bugado.

Na democracia burguesa as eleições funcionam como um mercado de votos, financiado majoritariamente por empresas, cujo principal produto é a comunicação política. Se temos uma classe política predatória do interesse público, refletimos a má qualidade do nosso voto e também do nosso sistema político. O escândalo Arruda nos mostra que a eleição de uma classe política melhor e mais comprometida com os problemas sociais só é possível com uma reforma política que adote o financiamento público de campanha, entre outras providências.

O financiamento privado de campanha aprisiona os políticos aos seus financiadores, pois campanhas futuras demandarão novos financiamentos. Restrição análoga a um veículo de comunicação que não dá enfase em denúncias contra seus grandes anunciantes. No Brasil somente as empresas e os empresários possuem recursos suficientes para financiar campanhas políticas, estabelecendo um elo próximo entre as duas cadeias produtivas, da política e da comunicação.

Perguntemos: qual o interesse de uma empresa em financiar a política? Listamos abaixo alguns motivos que levariam um empresário a doar dinheiro a um partido e/ou candidato:
a) acredita no projeto político do partido/candidato
b) acredita que seu setor será beneficiado com a implementação da política defendida pelo partido/candidato
c) é amigo ou conhecido do candidato ou dos dirigentes partidários
d) tem expectativa de obter mais contratos com o governo

A associação entre lucro e crime infelizmente é um fato. De maneira hipócrita as pessoas fingem não saber nada sobre sonegação, caixa 2, propina, fraude, falsificação, cartel, espionagem, entre outros recursos, que são cotidianos e recorrentes no mundo dos negócios. Vale lembrar o escândalo Enron e tantos outros. Também podemos olhar para as opções acima e afirmar que as empresas doam mais pelos motivos a) ou b), os que aparentam nobreza, mas sabemos que os motivos c) e d) são mais freqüentes, sendo o d) criminoso.

Proposta: financiamento misto de campanha, estatal, público e privado. O Fundo Estatal contaria com recursos do orçamento da união, limitado a um percentual da arrecadação. Um fundo público e não estatal geriria as doações corporativas, com critérios claros e transparência. Pessoas físicas poderiam doar para campanhas, limitadas em valores razoáveis e compatíveis com um país que ainda convive com a fome.

O acesso ao fundo estatal seria proporcional para os partidos e paritário para os candidatos. O fundo público poderia ser distribuído, por exemplo: 50% destinado ao acesso paritário, 30% para causas e temáticas e 20% para coligações. O doador corporativo indicaria para quais causas pretende destinar sua doação e os políticos associados às causas acessariam os respectivos fundos temáticos. Deve ser estabelecido um número máximo de causas por doador e por político. O fundo destinado à coligação seria acessado diretamente.

Os doadores individuais poderiam contribuir diretamente para as campanhas em valores razoáveis e limitados, de maneira que a soma de diversas doações individuais possa vir a representar um valor expressivo, mas uma única doação não. Claro, deve ser proibida a doação de recursos através de terceiros, ou o repasse de doações.

Por fim, deveriam ser proibidas campanhas milhonárias, com valores exorbitantes, e o próprio eleitor deveria ver nisso mal indício. Seria prudente desconfiar das campanhas muito ricas: não existe almoço grátis. Já passou da hora de realizarmos uma corajosa reforma política. O Brasil merece esta gentileza do seu povo, da sua classe política e da sua elite econômica.

Mas para isso é necessária uma grande mobilização política e legislativa, que poderia ser alcançada por uma assembléia nacional constituinte. Caso contrário o espírito corporativista do congresso falará mais alto e uma reforma política ficaria refém dos interesses dos parlamentares de se reelegerem novamente e dos seus atuais financiadores: ou seja, nada mudaria de fato.

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