domingo, 10 de agosto de 2014

O que é informação?


A informação é a percepção de um signo que altera um estado de certeza.

Comentários acerca do conceito acima enunciado.

Introito

Antes de qualquer outra exposição, cabe dizer que os conceitos são todos utilizados por empréstimo, são adulterados, apropriados, ressignificados e recompostos.

Não será negada qualquer inspiração, mas não passa disso: inspiração. Os conceitos, quando apontada sua matriz, que não se busque uma aplicação coerente com a original, pois não é este o caso. No entanto, por honestidade intelectual, vamos citar, na maioria das vezes, de onde sacamos uma ideia, mesmo que ela já não guarde muita semelhança com a fonte.

Aqui também não se pretende estabelecer qualquer verdade, mas sim oferecer uma interpretação. Não se trata de estabelecer um raciocínio irrefutável ou imune à crítica. Trata-se apenas de construir uma ferramenta cognitiva, que sirva para elaborar algum outro tipo de pensamento que seja válido, útil ou lúdico.

Percepção

A informação existe sem um receptor? Essa pergunta é muito difícil de ser respondida, e não há conclusão fácil. A princípio sim, podemos crer que a informação existe independente do receptor.

Por exemplo: o céu noturno contém muita informação para quem sabe interpretar, e existe independente do homem. Certamente podemos considerar o céu como informação, mas não como mensagem.

A mensagem implicaria a existência de um emitente, um meio e um receptor. Vejamos, um bilhete possui um emitente: quem escreve; um meio: o papel; e o receptor: quem lê.

Mas no caso do céu não há um emitente, a não ser que consideramos que o emitente seja Deus, o que implicaria um teísmo e, logo, na irrefutabilidade da tese, que nos termos de Karl Popper reduziria sua condição de proposição racional, quiçá científica.

Assim sendo, o que faz do céu uma informação é tão somente a existência da percepção deste por um receptor. Esta concepção deve agradar muito aos existencialistas e aos seguidores da fenomenologia, tornando as manifestações como fonte potencial de informação.

Signo

O entendimento como signo, na semiótica de Peirce, é devido a ampliação para além da linguagem, como registrava Saussure, podendo ser aplicado a outras formas de comunicação.

Como exemplo podemos citar a marca feita em árvores por ursos para delimitar seu território. Não é uma linguagem no sentido estrito, mas é um signo que pode conter muita informação, talvez vital para alguém andando na mata.

O signo, a rigor, poderia ser excluído do enunciado, podendo restar apenas: “a informação é uma percepção que altera um estado de certeza", o que o deixaria mais curta e elegante. Mantivemos o termo signo para não colocar todo o peso da definição na percepção, desconsiderando assim completamente o meio.

Certeza

Aqui entramos no campo da cognição e da lógica, posto que o conceito de certeza é de difícil apreensão. Precisamos então buscar a definição de Newton da Costa de conhecimento, como sendo uma "crença verdadeira e justificada". Precisamos separar certeza de conhecimento.

Uma certeza pode não corresponder ao conhecimento. Podemos ter certeza de algo que não pode ser verificado, ou que não pode ser justificado. Por exemplo: podemos ter certeza que o Zé está vivo, porque o vimos ontem, mas neste meio tempo o Zé pode ter morrido, apesar de minha certeza não ter sido abalada.

A certeza guarda relação direta com a crença. No caso, eu posso acreditar que tal pessoa está viva, e isso é uma crença, que leva ao estado de certeza. Mas esta certeza pode não ser verdadeira, pode não corresponder à realidade.

Podemos tomar como exemplo um paradigma superado. Era uma certeza medieval que o Sol orbitava em torno da Terra. Este é um bom caso sobre como a informação pode levar ao aperfeiçoamento do conhecimento.

Foram as informações oriundas do céu, percebidas por Kepler e Galileu, que levaram a alteração deste estado de certeza.  A certeza foi alterada por uma verificação que a crença medieval não correspondia a realidade, não era verdadeira.

Mas, para além de uma crença ser verdadeira, para se tornar conhecimento, deve ser também justificada, ou seja, ser comprovada através de argumentos racionais e científicos. No caso da órbita da Terra em torno do Sol, os modelos matemáticos justificaram a nova crença, tornando-a conhecimento.

Mas por que a informação deve ser definida como algo que altera uma certeza, e não como algo que acresce o conhecimento? Porque a informação pode ser falsa. Alguém pode me dizer que o João morreu, e ser mentira, mas não deixa de ser uma informação por ser falsa, é apenas uma falsa informação. Até então eu tinha certeza que o João estava vivo, e agora essa certeza foi abalada.

Originalidade e Redundância

Chegamos então a necessidade de alteração de um estado de certeza para comentar o último elemento de nossa definição.

Uma mensagem completamente redundante, que não altera o estado de certeza (ou de incerteza), não pode ser considerada informação. Se leio uma manchete de jornal: "Chacrinha morreu", essa mensagem não altera meu estado de certeza, pois já era de meu conhecimento que Chacrinha morreu.

A mensagem plenamente redundante não é informação. Mas não é informação para ninguém? Pode ser sim uma informação, pois, alguém desprevenido pode acreditar que o Chacrinha ainda está vivo, então para essa pessoa, a mensagem será original e de fato informará.

Isso confirma a relação da informação com o receptor, pois é no receptor que se resolve a redundância ou a originalidade da mensagem. A redundância não deixa de ser uma informação, pois se alguém me diz que João morreu, eu posso não acreditar, mas se 3 pessoas disserem, aumentará a minha certeza de que isso é um fato. A redundância ajuda a fixar a mensagem para o receptor.

Mas acima de uma certa taxa de redundância a mensagem deixa de ser informativa e se transforma em mera repetição, não fazendo mais diferença para o estado de certeza do receptor. Esta correlação, no binômio de Deleuze, entre Diferença e Repetição é fundamental para o entendimento do que é, e do que não é informação.

Vida

Por fim, olhemos para o DNA. Chega a ser um lugar comum que o DNA contém informação genética. Vamos testar a definição. O DNA leva a presente definição ao seu extremo, e é necessário um esforço de entendimento para a tornar aderente ao conceito.

O DNA é um código, que é contido no seu próprio meio: o cromossomo. Esse conjunto pode ser considerado um signo, pois sua "interpretação" pelo ser, ou pelo novo ser, carrega uma instrução, para agir, ou se desenvolver de uma determinada maneira.

O DNA não é "percebido" pelos sentidos, mas sim quimicamente, o que não deixa de ser uma percepção, assim como uma ameba "percebe" seu meio e reage a ele através de relações químicas. Levando ao extremo, nossos sentidos são processamentos cognitivos de percepções físicas e químicas. O que seria do paladar sem as reações fisico-químicas?

Por fim, o código contido no DNA altera o estado de incerteza do ser em questão. Se antes não seria possível afirmar que o ser seria alto ou baixo, o código contido no DNA confere esta certeza, que tal ser será ou alto, ou baixo. Após a informação contida no DNA ser "percebida" pelo ser, não resta dúvidas sobre a instrução a ser seguida.

Fica clara uma acomodação do exemplo para caber no conceito, mas o exercício que propomos não é o de espremer o conteúdo para caber no recipiente, mas sim alargar o recipiente, ampliar o entendimento do que é signo, percepção e certeza.

Este alargamento conceitual pode nos levar a contemplar a vida de outra maneira, estendendo ao íntimo de todo e qualquer ser a experiência cognitiva, ampliando assim as portas da percepção e da significação.

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