quinta-feira, 12 de abril de 2012

Existe um hiato na democracia

1. Existe um hiato na democracia de massas entre a pessoa do político e a figura pública do político. Assim como existe um hiato entre homofobia e o interesse homo enrustido. Ou entre o machismo e o (dominio do) poder concreto da fêmea.

Pesquisas monstram que os heteros homofóbicos sentem mais atraçāo por figuras do mesmo sexo do que heteros liberais. Metaforicamente @ vestal mais rápido se locupleta. A figura vestal é a que mais fácil se entrega aos dotes alheios. O poder é potência e é alienável.

2. A mídia é um ator institucional na democracia do espetáculo, mas sua atuaçāo nāo é regulamentada dentro do regime político. Os conglomerados de mídias agem como se fossem partidos políticos, defendem seus interesses através do controle de meios de comunicaçāo social.

Recebem financiamento público de suas campanhas através de verbas de propagandas estatais e governamentais. Muitas verbas sāo quase acaches. Recebem financiamento privado de corporações que nāo costumam investir nos veículos que falam mal delas. Recebem financiamentos individuais dos crédulos e dos leitores.

3. O poder financeiro, embora muito mais regulamentado, é eticamente livre para cometer qualquer lucro. Os lucros ilegais sāo sabidamente maiores do que os legais, e sāo "perdoados" sempre que nāo sāo descobertos. Ninguém deixa de ser amigo de um contraventor se ele nunca for pego, esta é a regra nāo enunciada.

A licitaçāo é a casa das orgias entre o público e o privado. Os convidados sāo poucos e pagam caro para entrar. Financiamento privado de campanha pública é ingresso de cadeira cativa. Quem registra a festa ganha bem para nāo publicar.

4. Os Movimentos Sociais têm por natureza uma condiçāo de carência de poder. Esta característica fundamental deve ser considerada na sua funçāo social como um elemento de fraqueza. Sua voz deveria ser amplificada e os benefícios obtidos distribuídos igualitariamente. Mas é comum o contrário.

Os movimentos sociais sāo reféns da própria mediocridade humana. Mediocridade interna quando os interesses particulares sāo travestidos de coletivos, e mediocridade alheia quando sāo nobres em valores mas nāo penetram na hipocrisia geral.

O único movimento social abundante de poder é o religioso.

5. Está em curso no Brasil um choque de interesses entre os poderes formais instituídos, os informais e os ilegais. Uns  compram outros vendem a nossa paz, e os ilegais intermediam o negócio. Os poderes informais - financeiro, comunicacional e movimentos sociais - preferem continuar informais.

Somente os movimentos sociais tem pouco (ou quase nenhum) acesso aos poderes formais da democracia. O poder efetivo dos movimentos sociais sāo reduzidos justamente pela ausência de poderio econômico e comunicacional. Já os poderes informais fortes podem desfrutar, apoiar ou até mesmo produzir movimentos sociais ao seu dispor, especialmente os religiosos.

6. A opiniāo pública é uma fragilidade democrática, pois é produzida por imagens frequentemente falsas, geralmente a serviço da representaçāo particular. O povo é um ente coletivo que nāo representa ninguém, simplesmente porque nāo se representa no palco político. Ninguém nunca viu o povo atuar, mas sim pessoas atuarem em nome do povo.

Dos poderes todos atuam em nome do povo, menos o financeiro que atua para o povo em nome dos seus interesses próprios. Todos atuam para o povo, menos o judiciário que atua para as leis (ou deveria). Todos tem interesse próprio, e como o povo é rigorosamente ninguém, "farinha pouca meu angú primeiro".

O poder difuso é o único nosso, que nāo se organiza direito e acaba organizado por todos.

7. Sair para onde? Talvez a pergunta a ser feita é sair quando...

O poder comunicacional está em disputa, sempre. Esteve muito concentrado nos últimos tempos, mas os tempos mudam. O poder financeiro também esteve muito concentrado desde que foi criado, mas as criações mudam.

Os poderes religiosos vocês que negociem diretamente com os Deuses, ou com os seus legítimos representantes, claro.

Já os poderes formais poderiam ser sujeitos todos a mesma regra de intolerância com a corrupçāo da alma. Deveriam ser todos poetas da vida, deixando de lado as palavras da astúcia. Mas somos todos humanos, demasiadamente humanos...

Enfim, talvez tudo se resuma ao sexo. E essa revoluçāo fica tāo mais longe quanto mais próxima está.

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