quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Dilma e Ciro comporiam a chapa mais forte

Capital político eleitoral - resposta espontânea

A análise abaixo apresenta (e representa) um viés. Parte da premissa que a democracia burguesa é um mercado de votos. Neste mercado a fotografia do momento indica que uma parte dos votos estaria imobilizada hoje pela menção espontânea. Este método de análise envolve alto grau de subjetividade e arbitrariedade.

Espontâneo

Lula
18,1
José Serra
8,7
Dilma Rousseff
5,8
Aécio Neves
4,2
Ciro Gomes
2,6
Heloísa Helena
1,4
Marina Silva
0,7
Outros
1,6
Branco/Nulo
5,3
NS/NR
51,6
Total
100



Votos do campo governista
26,5
Votos do campo da oposição
12,9
Marina + Heloísa + outros
3,7
Branco/Nulo
5,3
Não sabe
51,6
Disponível no mercado de votos
55,3



Primeira rodada de distribuição

Votos governistas (capital livre de Ciro)
5,5
Votos oposicionistas (capital livre do Serra)
8,5
Disponível no mercado de votos
41,3



Segunda rodada de distribuição

Votos governistas (rejeição combinada da oposição)
13,74
Votos oposicionistas (rejeição combinada da situação)
10,42
Disponível no mercado de votos
17,14



Terceira rodada de distribuição

Votos governistas (rejeição combinada da oposição)
5,7
Votos oposicionistas (rejeição combinada da situação)
4,32
Disponível no mercado de votos
7,11



Quarta rodada de distribuição

Votos governistas (rejeição combinada da oposição)
2,37
Votos oposicionistas (rejeição combinada da situação)
1,79
Disponível no mercado de votos
2,95



Total de votos governistas
53,81
Total de votos oposicionistas
37,94
Branco/Nulo
5,3
Disponível no mercado de votos
2,95


100


Método
A finalidade não é obter um quadro preciso nem objetivo, pois estamos distantes da eleição. Apenas nos auxilia a traçar um panorama da distribuição de votos e capital político eleitoral neste momento.
Consideramos indisponíveis no mercado de votos a menção à Lula, Dilma e Ciro no campo governista e Serra e Aécio no campo oposicionista, e os votos Brancos/Nulos. Consideramos como disponíveis no mercado de votos os percentuais de Heloísa Helena e Marina Silva, pois não estão sendo vinculadas diretamente nem ao governo nem à oposição, e a menção "Não Sei".

Na primeira rodada de distribuição de votos, calculamos o capital político eleitoral disponível para Serra em 8,5%, e para Ciro 5,5%. Lula possui 7,3% de capital eleitoral livre no momento, mas este pode estar incluído na sua menção espontânea. Está livre por Lula não ser candidato, mas já está comprometido. Atribuímos a margem de Ciro como votos para o campo governista e Serra para o oposicionista. Mais abaixo relatamos como chegamos a estes números.

Considerando os votos ainda disponíveis no mercado, atribuímos como potencial claro de votos em um campo a rejeição média do campo adversário. Consideramos a média da rejeição da situação [(Dilma + Ciro + Lula)/3] como votos certos da oposição, e a média da rejeição da oposição [(FHC + Serra + Aécio)/3] como votos certos para a situação.

Aplicamos cada rodada seguinte de distribuição de votos com base na fórmula acima, para a qual a rejeição média do campo governista é de 25% e do campo oposicionista de 33%. Aplicamos novas rodadas de distribuição dos votos até o nível 4.

Para as rodadas de distribuição de votos poderiam ser aplicados outros parâmetros, tais como capital político disponível para um combinado de outros atores, mas os dados são insuficientes para fazer maiores inferências. Fatores e atores regionais poderiam ser considerados também, se seus potenciais de transferência de votos fossem mensurados.

Potencial de votos
A rejeição de FHC é muito alta, podendo então ceder mais do que as outras, o que traria o índice de rejeição aos tucanos para baixo. Em plano federal a rejeição associada aos tucanos é muito alta, impedindo-os de acessar uma grande fatia de votos. Se fossem avaliados a influência e o capital político de atores reginais e locais, esta rejeição também poderia apresentar queda também.

No entanto a experiência parece apontar para uma transferência de votos mais ativa no mesmo nível federativo, e menos ativa em níveis diferentes, apesar de não ser desprezível. Projetando sequencialmente a rejeição média como voto no adversário teríamos 54% de potencial de votos para a situação e 38% para a oposição.

Caso a estratégia plebiscitária de Lula seja vitoriosa a grande rejeição de FHC será absorvida, pelo menos em parte, pela chapa identificada com a oposição. Neste caso o maior desafio da oposição será reduzir a rejeição ao FHC, que está em 49,3%, uma vez que escondê-lo seria praticamente impossível, pois os governistas aproveitarão sua campanha para relacionar a era FHC à candidatura tucana, o que não é tão difícil de se conseguir. Para o campo da situação o maior desafio será reduzir a rejeição de Dilma, que está em 34,4%.

Podemos perceber que Dilma já foi capaz de absorver 5,8 de votos, já configurando um capital político próprio, mas já totalmente imobilizado. Quando estimulados 13,5% dos entrevistados afirmam que só votariam em Dilma. Este percentual pode indicar as pessoas que já sabem que Lula apóia Dilma, mas que ainda não afirmam o voto espontaneamente em Dilma. Este percentual pode vir a crescer até 20,8%, correspondente ao percentual de pessoas que afirmam que só votariam em um candidato apoiado pelo Lula. Portanto, Lula ainda tem capital eleitoral próprio disponível para transferência direta de 7,3% dos votos.

Ausência do processo eleitoral

Variação sem José Serra
Dilma Rousseff 2
Ciro Gomes 7,5
Marina Silva 1,85
Branco/Nulo – Fidelidade 6
NS/NR – Incerteza 4,9


Variação sem Ciro
José Serra 8,7
Dilma Rousseff 4,2
Aécio Neves 6
Marina Silva 2,65
Branco/Nulo – Fidelidade 4,1
NS/NR – Incerteza 2,9


Variação sem Aécio
Dilma Rousseff 1,6
Ciro Gomes 2,8
Marina Silva 1,85
Branco/Nulo -6
NS/NR -4,9

A análise da tabela nos permite concluir que o voto que Ciro e Serra disputam votos diretamente. O cenário sem Ciro beneficia mais o Serra do que a Dilma. No entanto Dilma apresenta seus melhores desempenhos sem o Ciro na disputa. Mas estes números reforçam que a ausência de Ciro da disputa favorece mais a oposição do que o campo governista.

É interessante observar também o aumento de Brancos/Nulos e "Não Sei" com a saída de Serra e Ciro da disputa.

Sem Serra no processo há um aumento de Brancos/Nulos na ordem de 6%, que poderia indicar o seu público fiel, e um aumento de 4,9 de "Não Sei", que poderia indicar o percentual eleitores para qual o candidato seria uma referência. Sem Ciro há um aumento de Brancos/Nulos na ordem de 4,1%, seu público fiel e 2,9% de "Não Sei", eleitores para os quais o candidato seria uma referência.

Por estes números poderíamos supor que Serra possui de 6 a 11% (média 8,5) de capital eleitoral disponível e que Ciro possui de 4 a 7% (média 5,5).

Por esta mesma análise podemos supor que Aécio não tem capital político disponível, sendo o seu totalmente já imobilizado no processo, mas o seu alto grau de desconhecimento pode influenciar na alteração deste quadro.

O capital político de Serra só poderia ser transferido para outro candidato tucano, tornando-o disponível somente para o Aécio. Lula pode transmitir seu capital eleitoral para Dilma ou para o Ciro e este pode transferir tanto para o governo quanto para a oposição. Esta situação confere ao Ciro um peso de equilíbrio no processo eleitoral.

Rejeição e indicação de voto
É interessante também observar que o voto único em Serra e a rejeição da indicação de Lula estão no mesmo patamar, de 16%. Este seria o limite inferior de rejeição que Dilma poderia alcançar. Comparando com a pesquisa anterior podemos notar que tanto o desconhecimento quanto a rejeição de Dilma caíram cerca de 4%. Isso pode significar que um nível maior de conhecimento de Dilma poderia apontar para uma redução de sua rejeição, principalmente se associada a imagem do Lula.

As rejeições ao Serra e ao Aécio estão em um patamar de médio para baixo, 27,7% e 22,8% respectivamente. No entanto a rejeição a uma candidatura indicada por FHC chega a 49,3%.

O cenário é desfavorável para Marina Silva, que está apresentando a mais alta rejeição entre os candidatos, em um patamar de 38%. Marina também perdeu votos para Dilma do ultimo levantamento para o atual, e terá pouco tempo de TV, mostrando que sua candidatura possui severos limites para se viabilizar.

Em qualquer cenário cerca de 27% do eleitorado só votaria em uma indicação conhecendo o candidato. Isso pode apontar a real margem de votos atualmente em disputa. Este número não é muito distante dos 34% de votos disponíveis no mercado após a primeira rodada de distribuição do capital político dos principais atores. Principalmente se levarmos em consideração que não calculamos o capital político de outros atores por falta de dados.

Conclusões
Os 55% de votos disponíveis no mercado após a espontânea mostra-nos que a eleição está muito pouco decidida, e que há ainda muito espaço político/eleitoral em disputa. Ao menos 27% está em disputa, o que poderia alterar substancialmente o quadro atual de 54% de potencial de votos para a situação e 38% para a oposição.

Dilma vem apresentando crescimento constante, e melhorando seu desempenho em um segundo turno simulado, apresentando crescimento de cerca de 3% em comparação com a última pesquisa. Sua tendência de crescimento é contínua e ainda não mostra sinais de estagnação.

Ciro possui individualmente um considerável capital político disponível, apresentando bom potencial para retirar votos do campo oposicionista. Apresenta-se como uma candidatura viável, mas que pode tropeçar no pequeno tempo de televisão e na falta de palanques estaduais fortes.

O melhor cenário hoje para a disputa eleitoral seria uma coligação entre PT, PSB, PMDB, PCdoB, PDT e outros, representados em uma chapa com Dilma e Ciro. Isso garantiria a soma do capital político de Dilma, Ciro e Lula, palanques estaduais fortes e competitivos e um grande tempo de televisão. Este arranjo poderia evitar um segundo turno.

Nesta acomodação, o PMDB ficaria sem o vice, mas com boas condições de negociar posições vantajosas para escolha de candidatos a governadores e senadores. Outro arranjo possível seria uma candidatura própria do PMDB no primeiro turno e apoio à candidatura governista no segundo turno.

Para os tucanos o desafio é grande, pois precisam reduzir a rejeição em FHC. Está fadada ao fracasso uma estratégia de escondê-lo, pois ele é muito conhecido e tem sua imagem muito associada aos tucanos. Além disso os governistas não deixariam isso acontecer, pois explorariam a associação na campanha eleitoral. Os tucanos não terão escolha, terão que defender o Governo FHC para reduzir a sua rejeição.

José Serra é o pré-candidato tucano mais associado à imagem de FHC, e possui uma rejeição consideravelmente mais alta do que Aécio. Seria mais fácil aos tucanos distanciar Aécio de FHC do que Serra de FHC, e sua rejeição menor o coloca em vantagem, uma vez que Serra transfere praticamente todos seus votos ao correligionário. Aécio também seria mais capaz de fugir do confronto governo x oposição, afirmando que o pós-Lula não deveria ser polarizado. As chances de Dilma parecem ser consideravelmente maiores contra Serra do que contra Aécio.

Uma chapa Dilma/Ciro, ou Ciro/Dilma, seria extremamente competitiva, podendo sair vencedora do pleito já no primeiro turno. Seria uma chapa que anularia algumas das vantagens do Aécio, pois Ciro retira votos do PSDB em qualquer cenário. O tempo de TV do PMDB seria muito importante para uma eventual vitória no já primeiro turno, mas caso venha a ter o segundo turno esta vantagem seria minimizada, reduzindo um pouco do poder de barganha deste em favor do PSB.

Altos índices de rejeição de ambos os lados podem possibilitar um acordo em manter a campanha em alto nível. Aécio teria mais condições de fazer uma campanha mais limpa, por ter a imagem menos associada a FHC. Serra poderia apostar em uma campanha mais agressiva, para tentar aumentar a rejeição da Dilma. Este tiro poderia sair pela culatra, caso fosse associada à sua imagem o comportamento truculento, aumentando assim sua rejeição.

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