terça-feira, 17 de novembro de 2009

Por um paleolitismo tecnológico ou

Twitticídio, Orkutcídio, Facebookcídio, Gmailcídio ou
Por uma tecnologia sem fetiche.

O desejo profundo de todo ser humano é ser feliz. Varia a crença em como se conseguir tal feito na vida. Cada um busca seu caminho e, sim, de fato existem correntes coletivas milenares e seculares representam estes caminhos.

Como desejam as pessoas? Que mundo nós temos e que mundo nós poderíamos ter? Somos seres desejantes, e nossos desejos constroem a realidade. E se todos os seres humanos desejassem ter um estilo de vida semelhante ao do europeu ou do americano médio, o que aconteceria?

O atual nível euro norteamericano de consumo, turismo, alimentação e uso tecnológico não é possível de ser estendido para o restante da humanidade. E seria desejável? Não haveria rios, céus, mares, terras, e seres vivos suficientes para realizar tal "democratização de acesso" ao estilo de vida da elite ocidental.

Guatarri sugere que a saída possível é uma ecosofia, um aliança entre três ecologias: a ambiental, a social e a dos desejos. Não é viável a realização de uma apartada das outras. Não há equilíbrio ambiental sem justiça social. Não há justiça social possível quando os oprimidos desejam tornarem-se opressores. Não há equilíbrio ambiental possível se as pessoas desejarem para as suas vidas um estilo de vida europeu ou americano.

O elogio da alteridade e o cultivo da diversidade cultural nos auxiliam na manutenção de sonhos distintos, de outros valores. Se outro mundo é possível este mundo é múltiplo. A luta antiglobalização nos ensinou que a diversidade de táticas é uma boa estratégia. Hoje não se sonha só com a vida da elite ocidental, mas devemos admitir que a mídia de massa obteve relativo sucesso em difundir este padrão desejante pela humanidade.

E como a tecnologia penetra nossa vida? Ob observando o mundo tecnológico percebemos nele um mito da tecnologia que absorveu um juízo de valor positivo imanente. A tecnologia povoa as estruturas da mente ocupando lógicas pré-existentes. E a sala dos mitos sempre está aberta para ser povoada por novos integrantes. Entre os mitos estão os heróis, e a tecnologia cada vez mais é cultuada como um herói moderno, que pode salvar a todos das injustiças, do aquecimento global, e de tudo mais.

Hoje a tecnologia e o consumo da tecnologia estão atreladas pelo fetiche. É um fascínio, uma sedução, um desejo incontrolável de ter o último modelo, de usar a última ferramenta web, de pertencer a rede mais emergente, em suma: a necessidade opressiva de estar "antenado". A tecnologia está se transformando em um imperativo moderno, em uma necessidade cotidiana. E o consumo agradece. E o capitalismo agradece.

E da-lhe consumo, venda de celulares, notebooks, softwares e ai-tudos. Troca-se o antigo pelo novo somente para se ter acesso a uma tecnologia da moda. É a hora e a vez do elogio ao novo, já que o mercado vende mais para o jovem. Inclusive quando vende para o velho, vende para o lado jovem do velho. E hoje nossos velhos são cada vez menos respeitados como anciões. Vivemos uma desgeroncratização da sociedade, e nossos anciões são cada vez mais associados a idiotas e os jovens aos heróis.

Vivemos presos ao tempo que rege a sociedade do desempenho. Hoje somos escravos do tempo do trabalho, tempo que tudo rege, ética dominante. Desviante é a preguiça, o descanso, a agenda livre. Produzir é a ética e a estética da sociedade do desempenho. Falamos em sociedade da informação, sociedade do conhecimento, em outras sociedades disso e daquilo, mas não contestamos o paradigma do desempenho a reger nosso cotidiano, a oprimir nossa alma e angustiar nossos dias e noites de sonhos. O desejo de desempenho parece preencher o vazio de sentido da vida moderna.

A ecologia dos desejos clama por menos desempenho, por menos tecnologia. Se fossem estes valores inerentemente positivos a bomba atômica seria uma maravilha para a humanidade - e para a gaia. Desejemos que libertem-se os escravos da tecnologia, do tempo, do desempenho. Que libertem-se os autômatos das postagens diárias, das respostas rápidas, das redes sociais, das últimas notícias e tendências. A sociedade da hipercomunicação ameaça transformar o ato comunicativo de prazer em obsessão.

Desviamos do futuro que não desejamos desejando uma outra vida para os nossos dias. Se desejarmos mal o futuro será um lixo. Inclusive será um mundo ocupado pelo lixo tecnológico. Um convite para pensarmos duas vezes antes de desejarmos um estilo de vida da elite capitalista, consumindo cada vez mais tecnologia, e tecnologia cada vez mais moderna.

Se faz necessário olharmos para a ecologia dos nossos desejos para não nos transformarmos em alienados como produtores, consumidores e usuários de tecnologia. O quanto de qual tecnologia realmente precisamos para sermos felizes? Será que somos mais felizes que nossos antepassados?

Bença Lao-Tsé, Marx, Marx, Levi-Strauss, Foucault, Morin, Deleuze, Guatarri, Hakim Bey, Marcurse, Lafargue, Pimentel e os autores coletivos todos.

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